Artigo avalia contextos de vulnerabilidade para o HIV entre mulheres brasileiras.
 
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A alta proporção de mulheres infectadas por HIV pelos parceiros fixos aponta a necessidade urgente de implementar novas estratégias de prevenção voltadas para essa parcela da população. Essa foi uma das conclusões de um estudo realizado por pesquisadores da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, da Universidade Estadual de Campinas, da Universidade Federal de São Paulo e da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz. A pesquisa, publicada em suplemento da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, tinha como objetivo identificar os contextos de vulnerabilidade para o HIV entre brasileiras.

“Quando se analisa a evolução da epidemia no sexo feminino no país, observam-se três fases distintas em termos de risco para infecção pelo HIV: a primeira, até 1986, quando a transmissão pela via sexual era mais importante, sendo, naquele momento, as parceiras com homens que fazem sexo com homens e transfundidos as mais frequentes”, esclarecem os pesquisadores no artigo. “A segunda fase, do fim da década de 80 ao início da década de 90, em que o uso de drogas injetáveis aparece como uma importante forma de infecção pelo HIV, particularmente na região Sudeste, e a terceira fase, do início dos anos 90 até o presente momento, que apresenta nítido predomínio da prática heterossexual como forma de transmissão do HIV para as mulheres”.

Para o estudo, foram consultadas 1.777 mulheres com diagnóstico positivo para HIV e 2.045 usuárias de serviços públicos de atenção à saúde da mulher sem diagnóstico conhecido de soropositividade para a doença, todas maiores de 18 anos, em 13 municípios distribuídos nas cinco regiões do país. “A comparação entre os dois grupos mostrou que as mulheres com diagnóstico de HIV/Aids não apresentaram um número de parceiros significativamente diferente com relação às mulheres sem diagnóstico da doença”, comentam os pesquisadores. “No entanto, as mulheres vivendo com HIV/Aids apresentaram início da vida sexual mais precoce, menor aderência ao uso de preservativos e uma maior proporção delas relatou uso de drogas, ocorrência de DST e de violência sexual na vida”.
 
Dentre as quase 1,8 mil mulheres que relataram viver com a enfermidade, 1.098 afirmaram ter parceiro fixo no momento da entrevista, sendo que 82,4% conheciam a sorologia deles e 46,3% disseram que seu parceiro também era portador de HIV. “Entre as mulheres vivendo com a doença com parceiro fixo na época da infecção, 70% relataram que foi este parceiro que as infectou e 22% não sabiam se haviam sido infectadas por ele ou não”, explicam os pesquisadores. As principais formas autopercebidas de infecção foram: o parceiro ter múltiplas parceiras sexuais ou ser bissexual (38%), elas terem sido relações sexuais desprotegidas (23%) e o parceiro ser usuário de drogas (17,3%).

Com relação ao uso de preservativos, 32% das mulheres que não têm a doença relataram que nunca os usavam e 46,1% o usavam às vezes. “Tais porcentagens foram significativamente maiores para mulheres vivendo com HIV ao se referirem à época da infecção, 62% nunca usavam e 32,3% às vezes”, elucidam os pesquisadores. “Outro dado relevante é que das mulheres vivendo com HIV que tinham parceiro fixo com sorologia positiva, 38,5% relataram fazer uso de preservativos de forma inconsistente; esta proporção foi um pouco maior (43,4%) para mulheres com parceiro fixo com sorologia desconhecida e significativamente menor (20%) quando o parceiro fixo tinha sorologia negativa.”

Segundo os pesquisadores, a alta proporção encontrada no estudo de mulheres infectadas pelos seus parceiros fixos e de uso inconsistente de preservativos pelas que já vivem com a enfermidade sugerem uma possível baixa percepção de risco e impossibilidade de negociar de modo efetivo o uso do preservativo ou os termos da relação afetiva. “A orientação de diminuir o número de parceiros ou permanecer em relações monogâmicas como forma de prevenção das DST/Aids não tem se mostrado, haja vista a grande parcela de mulheres infectadas pelo HIV por via heterossexual que referiu parceria sexual única no momento da infecção”, apontam os pesquisadores. “Assim, é urgente enfrentar a discussão relativa à adoção de propostas alternativas que possam diminuir a possibilidade de transmissão sexual do HIV”.

Texto: Renata Moehlecke
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias

 

 
 
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