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Grupo da USP demonstra importância da higienização de escovas de dente. |
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Quente, úmido e abafado – assim é o ambiente ideal para a proliferação de bactérias. E assim fica sua escova de dente quando você a guarda no armário do banheiro ou em estojo próprio. “Se não for feita a higienização correta da escova após o uso, ela se torna propícia à multiplicação das bactérias naturalmente presentes na boca e que, durante a escovação, alojam-se nas cerdas”, explica o professor Paulo Nelson Filho, da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da USP. Nelson Filho é pesquisador na linha de "Prevenção em Odontologia - Estudos microbiológicos, clínicos e por microscopia eletrônica de varredura", da pós-graduação da FORP. Desde 1999, o grupo foca, principalmente, em análises e estudos relacionados à contaminação e desinfecção de itens como escovas de dente, chupetas e aparelhos ortodônticos. Ele explica que, na boca, se encontram cerca de 900 espécies de bactérias, capazes de viver até 24 horas entre as cerdas das escovas dentais, onde se multiplicam e tornam a entrar em contato com a boca na próxima escovação, colaborando para uma maior probabilidade de ocorrência de doenças como a cárie dental, alterações gengivais e lesões da mucosa bucal. “Hoje a preocupação maior do mercado odontológico é com o desenvolvimento de materiais e técnicas inovadoras, esquecendo-se muitas vezes da importância de cuidados básicos, como o armazenamento, troca e desinfecção das escovas”, afirma. Apesar desses cuidados com a escova ajudarem a prevenir males causados por bactérias, a população não cultiva o hábito de higienizar itens que entram em contato com a boca – é o que aponta levantamento da FORP publicado recentemente na revista da Associação Brasileira de Odontologia. O pesquisador defende que a orientação deve partir dos profissionais, de modo que se torne parte da rotina dos pacientes. “Assim como ninguém reutiliza fio dental ou veste a mesma roupa por dias seguidos, a desinfecção desses itens é um hábito de higiene pessoal que deve ser adquirido”, completa o especialista da FORP.
Pesquisas, resultados e recomendações Apesar de não existirem estudos comparativos entre indivíduos que desinfetam suas escovas e aqueles que as guardam sem qualquer procedimento higiênico, Paulo Nelson afirma que já foram detectados casos de pacientes cuja incidência de lesões na mucosa diminuiu depois de adotado o hábito de higienização. Como deve ser feita então a higienização das escovas? O professor da FORP recomenda a utililização de agentes antimicrobianos disponíveis no mercado (como enxaguantes bucais), acondicionados pelo próprio paciente em frascos de plástico ou vidro, em forma de spray. O produto deve ser borrifado nas cerdas e na cabeça da escova uma vez ao dia, após a escovação noturna. O professor complementa, ainda, que o próprio creme dental pode colaborar para a higienização da escova. Os mais indicados, segundo ele, são aqueles que contêm flúor e, mais especificamente, que apresentam "ação total ou global". Além disso, o usuário deve estar atento para a higienização em água corrente antes da próxima escovação, para retirar as bactérias mortas. “Depois do uso, deve-se bater o cabo da escova na pia, para eliminar o excesso de água, mas nunca secá-la em toalha de banho ou rosto”, recomenda Paulo, que indica três meses, em média, como o tempo ideal entre a troca da escova velha por uma nova. Em relação ao armazenamento, o professor aponta que a escova não deve ficar sobre a pia. “O banheiro é o local mais contaminado de uma casa. Temos pesquisas que comprovam a presença de coliformes fecais alojados em escovas, em função das descargas e da proximidade com o vaso sanitário”, expõe ele. Portanto, o melhor é guardar a escova desinfetada no armário do banheiro. O próximo passo nas pesquisas do grupo é a análise de escovas, recém-lançadas no mercado, que apresentam ação antimicrobiana para reduzir o acúmulo de bactérias nas cerdas. Outro tema abordado na linha de pesquisa de prevenção em odontologia relaciona-se ao que o professor chama de “adequação do meio bucal”. O especialista explica que, mais do que tratar os sintomas das doenças bucais, como a cárie dental, por exemplo, é necessário curar a doença em si. Assim, antes de fazer restaurações é preciso tornar a boca saudável, de uma maneira durável, controlando os agentes causadores de cárie. O grupo da FORP analisa quais são os materiais e técnicas mais eficientes a serem adotados no tratamento. Sobre o método de pesquisa e divulgação, o Nelson Filho explica que é essencial um intercâmbio com outras disciplinas e unidades do campus de Ribeirão Preto e demais universidades do Brasil e do exterior. “Depois, todos os resultados a que chegamos nas pesquisas são incorporados às aulas de graduação e de pós-graduação da faculdade, e divulgados ao meio científico por meio de teses e publicação de artigos em revistas especializadas, nacionais e internacionais”, finaliza.
Texto: Cristiane Sinatura |
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