Cresce a porcentagem de nipo-brasileiros vítimas de diabetes.
 

A constituição física dos japoneses favorece o aumento dos casos de síndrome metabólica, que é a conjunção de altos índices de colesterol, hipertensão, diabetes e obesidade abdominal. De acordo com a professora Sandra Roberta Gouvêa Ferreira, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, a porcentagem de diabetes em nipo-brasileiros pulou de 22,6% para 36,1%, entre 1993 e 2000, uma das maiores taxas do mundo. No Japão, esse índice é de apenas 6,9%, e na população geral brasileira, de 5,2%, segundo o Atlas da Federação Internacional de Diabetes.

A informação foi apurada pelo grupo Japanese-Brazilian Diabetes Study Group (JBDSG), que reúne pesquisadores da USP e Unifesp, hoje liderado pela professora Sandra. "Se eles moram no Brasil, os riscos aumentam ainda mais devido à nossa dieta rica em carne vermelha gordurosa, diferente da habitual e de baixo nível calórico ingerida em seu país de origem", ressalta a pesquisadora.

Em 2000, 84% do pessoal avaliado pelo grupo apresentavam altas taxas de colesterol no sangue. A pesquisa foi feita com 647 pessoas em 1993, e outras 1.330, em 2000, de primeira e segunda gerações de japoneses residentes em Bauru, no interior de São Paulo. Nestes sete anos de acompanhamento, a mortalidade na população estudada foi duas vezes maior entre pessoas com diabetes do que entre aqueles com tolerância normal à glicose. "Os dados são preocupantes, já que a maior população de origem japonesa que vive fora do Japão reside em nosso País", comenta a especialista.

A explicação para os dados, segundo a pesquisadora, tem origem em fatores genéticos e ambientais: o estresse da migração, a diminuição das atividades físicas e as mudanças nos padrões da dieta aliados à constituição física da população nikkei (descendentes nascidos fora do Japão ou japoneses que vivem regularmente no exterior). Enquanto que no Japão a porcentagem de gordura não chega a 17% na dieta diária, aqui esta taxa ultrapassa os 32%. Além disso, o tipo físico dos nipônicos favorece o segundo pior perfil de risco para doenças cardiovasculares, já que ele concentra a gordura na região abdominal em vez de distribuí-la uniformemente pelo corpo. Para um japonês ser considerado obeso, seu IMC (Índice de Massa Corporal) - que é o peso dividido pela altura ao quadrado - deve estar acima de 25, enquanto que para os ocidentais esse número sobe para 30. E, mesmo que ele não tenha IMC maior que 25, poderá ser de alto risco cardiovascular se apresentar deposição de gordura no interior do abdômen (também chamada de gordura visceral).

À frente de dados tão alarmantes, o grupo decidiu que era necessário intervir nos hábitos desta população, tanto alimentares quanto físicos. De 2005 a junho de 2007, reuniu 720 pessoas participantes da etapa anterior da pesquisa. Para conter o aumento da síndrome metabólica, e diminuir os óbitos decorrentes dela, optou-se por um programa de orientação nutricional em que cada paciente recebeu uma dieta personalizada, com redução de 32,4 para 30% das gorduras totais, sendo que apenas 10% do total seriam saturadas. Além disso, foi proposto o aumento da ingestão de fibras por meio de vegetais (25 a 30 gramas por dia), já que seu consumo está associado ao aumento da sensibilidade à insulina, o que afasta o risco de diabetes. Os pacientes também foram incentivados a fazer 150 minutos de exercício por semana. A meta era reduzir o peso corporal em 5%.

Os resultados do primeiro ano de estudo, apresentados em agosto no XII Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica, mostram que alguns índices melhoram quando a dieta é menos calórica e as pessoas são incentivadas a fazer atividades físicas. Os benefícios orgânicos dessa fórmula simples foram maiores para os diabéticos do que para os indivíduos normais. O grupo teve diminuição de quase 1 centímetro na cintura, o IMC médio caiu de 24,9 para 24,7 e as variáveis metabólicas, tais como índice de glicemia, colesterol e pressão arterial, também melhoraram. Por outro lado, os marcadores inflamatórios, que indicam o grau de pró-inflamação do paciente (quadro subclínico, que lesa os órgãos silenciosamente), não mostraram diferença ao longo da primeira fase da intervenção. A próxima etapa do projeto é descobrir fatores genéticos e psicológicos que podem contribuir para os pacientes mudarem seu estilo de vida, em busca de uma maior longevidade e sem a companhia das doenças cardiovasculares.

Texto: Laura Lopes
Fonte: Agência USP

 

 
 
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