UnB tem centro de referência de diagnóstico a intolerância humana ao glúten e acompanha os pacientes.
 

Desânimo, diarréia crônica, anemia, déficit de crescimento. São os sintomas mais comuns de um mal freqüentemente associado apenas às crianças: a doença celíaca. Mas assim como o problema pode se manifestar de forma silenciosa, também pode afetar adultos e idosos. Desmistificar a doença celíaca é o mote de um centro de referência criado na Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (FMD/UnB) em 1998. O Centro de Prevenção e Diagnóstico da Doença Celíaca - coordenado pelos professores Lenora Gandolfi e Riccardo Pratesi - tem um ambulatório gratuito no Hospital Universitário de Brasília (HUB). Todas as pessoas com suspeita de ter o problema podem fazer os exames de detecção às terças-feiras, entre 10h e 12h. Interessados também podem buscar orientação no mesmo lugar.

A doença celíaca é caracterizada pela intolerância permanente ao glúten, uma proteína encontrada no trigo, na aveia, no centeio e na cevada (também em seu subproduto, o malte). A fração tóxica do glúten é a gliadina. Essa substância afeta o intestino delgado, cujas paredes internas são cobertas por vilosidades - semelhantes a pequenas saliências que capturam os nutrientes necessários ao organismo. O glúten ataca as vilosidades em um celíaco, que fica com as paredes do intestino praticamente lisas. Por isso, a pessoa tende a ter desnutrição, anemia e baixa estatura.

Traiçoeira

Mas a doença pode muitas vezes ser silenciosa e o paciente conviver anos com o problema sem saber. E sem tratá-lo. Isso provoca conseqüências mais graves, como distúrbio do equilíbrio, epilepsia, infertilidade, abortos repetitivos, repercussões reumáticas e osteoporose em adultos jovens. "A doença celíaca é traiçoeira porque algumas pessoas levam a vida com sintomas fracos e só depois dos 50 ou 60 anos descobrem o problema", afirma o neuropediatra Pratesi. Os sintomas neurológicos afetam em geral 10% dos doentes. Sem tratamento, os pacientes também têm mais predisposição a cânceres como linfoma e carcinoma.

Ele e Lenora, que são casados e se dedicam ao mesmo objeto de estudos, foram os pioneiros no Brasil a adotar uma nova forma de detecção da enfermidade. Antigamente, o diagnóstico demandava três biópsias intestinais. Nos anos 70, surgiram os primeiros exames de sangue que indicavam a suspeita do mal. Pratesi e Lenora viajaram em 1998 para a Itália - país com as mais avançadas pesquisas na área -, onde aprenderam as técnicas de antiendomísio e antitransglutaminase. Esses exames tornaram necessário fazer apenas uma biópsia. Uma das análises é a comparação do sangue da pessoa com um pequeno pedaço de esôfago de macaco e um marcador florescente. Quanto se trata de um indivíduo com doença celíaca, o contato do sangue provoca uma reação de luz no esôfago captada por microscópio. "Esse exame dá praticamente a certeza de que a pessoa é celíaca e decidimos trazê-lo para cá e difundi-lo entre os brasileiros", explica a gastroenterologia Lenora, que já realizou 10 mil testes no centro.

O Ambulatório do Centro de Prevenção e Diagnóstico da Doença Celíaca da Faculdade de Medicina da UnB funciona das 10h às 12h, sempre às terças, na Ala da Pediatria (corredor laranja) do HUB. Como não há telefone na sala, qualquer informação tem de ser dada in loco. Como a maioria das lâminas com o esôfago é importada dos Estados Unidos (embora haja uma convênio com o Centro de Primatologia da UnB), as pessoas podem fazer uma doação - por meio da Fundação Saúde - de R$ 10,00. "Mas a doação é voluntária e fazemos mais de 80% dos exames totalmente de graça", diz Lenora. Todos os meses, cerca de 50 pessoas fazem os exames no ambulatório do hospital.

Ao confirmar que uma pessoa tem intolerância ao glúten, os professores a cadastram no centro para acompanhamento. Também a encaminham à Associação de Celíacos do Distrito Federal. No centro da UnB, todos os pacientes são orientados por nutricionistas para seguir uma dieta sem a substância. Até uma pequena quantidade pode fazer mal. Por isso, as recomendações devem ser seguidas à risca e envolvem uma reestruturação completa da alimentação. Não se deve, por exemplo, nem mesmo consumir nada que foi assado em um tabuleiro polvilhado com farinha de trigo. Cerveja e uísque também são proibidos por conter malte.

A conscientização é necessária para que a pessoa encontre alternativas saborosas para o pão, o bolo e outras comidas, diminuindo as tentações. E as opções são vastas, já que nem arroz, nem mandioca, nem fubá, nem fécula de batata contêm glúten. Existem também casas especializadas que vendem produtos sem glúten - a preços naturalmente mais altos que os alimentos comercializados nos grandes mercados. Uma vez por ano, todos os pacientes passam por exames nos quais Lenora e Pratesi verificam se a dieta é seguida corretamente. "Toda pessoa com doença celíaca que retira o glúten da alimentação melhora, mesmo aquelas que tinham sintomas fracos", garante o neurologista. O casal de professores cativa os alunos de Medicina da UnB a continuar os estudos. Atualmente, a dupla orienta 12 estudantes da pós-graduação que se dedicam à pesquisa sobre a doença celíaca.

Texto: Apoena Pinheiro
Fonte: UnB Agência

 

 
 
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