Após a menopausa, com a diminuição dos níveis de estrogênio (hormônio feminino), acredita-se que haja um declínio da atividade sexual da mulher. Dor e desconforto seriam alguns dos fatores que contribuiriam para essa mudança comportamental. A despeito dessa visão, muitas mulheres mantém-se sexualmente ativas mesmo após a menopausa, entretanto, mesmo saudáveis, nem todas chegam ao orgasmo. O que determinaria isso? Segundo estudo da Faculdade de Medicina da USP dois fatores influenciariam positivamente: relacionamento mais afetivo com o parceiro sexual e a prática da masturbação. 

Das 60 mulheres que participaram da pesquisa, 35% (21) nunca alcançavam o orgasmo durante a relação sexual com o parceiro e outros 35% só o conseguiam esporadicamente. Apenas 30% (18) alcançavam um ou mais orgasmos em todos as relações sexuais. "Dentre todas as formas de atividade sexual, a masturbação é a mais eficaz em produzir orgasmos em mulheres", afirma Sonia Regina Penteado, coordenadora do estudo, e equipe em artigo publicado na Revista da Associação Médica Brasileira (v. 50, nº 4).

Cerca de um terço (18) das participantes do estudo praticava a masturbação. Nesse grupo, 89,9% (16) obtinham um número de orgasmos por mês (durante relação sexual ou não) superior à freqüência sexual (número de coitos), o que só ocorreu em apenas 30% das que não praticavam o auto-erotismo. "Esse resultado mostra que a masturbação constitui, efetivamente, uma forma de contrabalançar a dificuldade de se obter orgasmos com o parceiro", afirmam os pesquisadores. 

Ao contrário do que se poderia esperar, a secura vaginal, um dos problemas mais relatados pelas mulheres no período pós-menopausa, não foi relacionada à dificuldade na obtenção de prazer. "Mulheres que apresentam secura vaginal, mas que praticam a masturbação e mantêm relacionamento afetivo com o parceiro, conseguem obter o mesmo número ou um número maior de orgasmos se comparados à freqüência do coito", afirmam os pesquisadores no texto.

Apesar de ser mais recorrente, a dificuldade da mulher em obter um orgasmo está longe de se restringir à menopausa. Segundo estudo realizado em 2000 com 2.835 indivíduos (homens e mulheres) de sete cidades brasileiras, coordenado pela pesquisadora da USP, Carmita Abdo, 29,3% das mulheres encontram dificuldade em obter o orgasmo. Nos EUA, por exemplo, o número é um pouco menor: 25%.

Todas as participantes do estudo foram selecionadas após entrevista com 999 mulheres, com idade entre 41 e 60 anos, atendidas no ambulatório de ginecologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, no período de maio de 2000 a novembro de 2001. Participaram da pesquisa apenas as sexualmente ativas, com pelo menos um ano de menopausa, com útero íntegro, relacionamento estável com parceiro sexualmente capacitado e não usuárias de terapia hormonal. Todos os dados utilizados foram obtidos através de exame físico e ginecológico completo e da aplicação de dois questionários.

Os pesquisadores destacam o fato de que a ausência total ou parcial de orgasmo na atividade sexual não constitui elemento suficiente para o diagnóstico de disfunção sexual. No texto sobre a pesquisa, eles explicam que a OMS (Organização Mundial de Saúde) define disfunção sexual como "os vários modos em que um indivíduo é incapaz de participar de uma relação sexual como ele/ela gostaria". Dessa forma, um indivíduo tem que estar insatisfeito com sua vida sexual para que se considere um caso de disfunção.

Sonia Regina Penteado e sua equipe lamentam a falta de informações sobre o assunto. "Dentre os estudos sobre sexualidade disponíveis em bancos de dados, observa-se uma escassez no enfoque da prática de masturbação na fase do climatério ou em qualquer outra fase da vida da mulher", afirmam. Segundo eles, as pesquisas na área da sexualidade encontram-se em estágio inicial, sendo necessários estudos anatômicos que aprofundem o conhecimento da fisiologia da resposta sexual feminina.

Fonte: Agência Notisa