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Leitura para idosos estimula que eles contem suas próprias histórias.
   

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Uma atividade de humanização hospitalar implantada no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) desde abril deste ano tem estimulado os pacientes com mais de 60 anos internados no Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT). Trata-se da contação de histórias e do incentivo à leitura, iniciativas que, muitas vezes, acabam por levar os pacientes a relembrarem as suas próprias histórias, sua juventude e vivências.

A idéia é da Equipe da Brinquedoteca do IOT, com apoio do Comitê de Humanização do Instituto, coordenado pela terapeuta ocupacional Thais dos Reis Olher. Ela teve a idéia de implantar o projeto e orientou uma das recreacionistas do Instituto, Alexandra Cavalcanti, para que ela fizesse o curso Biblioteca Viva. Trata-se de um programa desenvolvido desde 1995 pela Fundação Abrinq em parceria com o Citigroup, com apoio do Ministério da Saúde, que tem o objetivo de fazer a “mediação” de histórias para o público infantil. “Mas logo em seguida, o grupo Viva e Deixe Viver, voltado para a infância e adolescência, começou a trabalhar com as crianças do Hospital. Então, para não repetir a mesma atividade, pensamos que poderíamos adaptar os conhecimentos adquiridos no curso Biblioteca Viva para o público da terceira idade”, conta Thaís. Segundo ela, existia uma demanda no sentido de oferecer alguma atividade recreativa aos internos desta faixa etária.

Uma vez por semana, Alexandra visita as enfermarias do IOT e se apresenta aos pacientes com mais de 60 anos, explicando como funciona o trabalho. Então ela pergunta se eles querem ouvir alguma história. Em caso positivo, o paciente escolhe se quer que ela conte ou se prefere ele mesmo ler o livro. “Em alguns casos, deixamos o livro com o paciente, que na semana seguinte faz comentários sobre a história”, afirma Thais. A atividade é voltada especificamente para o público da terceira idade, mas muitas vezes há um paciente mais jovem no quarto. Nesse caso, ele também é convidado a participar.

Segundo Thais, o resultado é muito bom, pois estimula muito o paciente idoso. Muitas vezes ao ouvir as histórias, ele acaba lembrando de acontecimentos que viveu na juventude, ou de hobbies que exerceu ou acaba associando com algo muito próximo e familiar. Então, é comum que eles não apenas ouçam, mas também contem suas próprias histórias de vida. Há ainda aqueles que acabam percebendo que já leram aquele livro. “Muitos deles acabam retomando o hábito da leitura, por vezes abandonado há alguns anos”, aponta.

A terapeuta ocupacional lembra que a terceira idade é a faixa etária mais suscetível a quedas e fraturas, motivos que ocasionam a maioria dos internamentos no IOT. “Então essa atividade ajuda os pacientes a amenizarem a internação, já que eles não conseguem esquecer que estão internados, e a tristeza que muitos sentem por estarem com problemas de saúde. Ao relembrar sua própria história, o paciente idoso, apesar de estar fragilizado, muitas vezes com fraturas, percebe que tem um lado saudável ligado a suas memórias de vida”, afirma Thais.

Livros, revistas e bíblia

Os livros utilizados na atividade vão desde “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry, passando por “Marcelo, Marmelo, Martelo”, de Ruth Rocha, até obras de grandes autores, como Érico Veríssimo. Thais explica que a proposta original é usar livros menores, de 20 a 30 páginas, com muitas ilustrações. Se o paciente gostar, o grupo oferece outra obra com um número maior de páginas para que ele leia até a semana seguinte. Há livros sobre os grandes mestres da pintura (que trazem muitas ilustrações) e sobre personagens de Walt Disney.

Já tivemos pacientes que perguntaram se tínhamos a Bíblia. Havia um exemplar conosco e deixamos com eles”, conta. O grupo também dispõe de revistas de assuntos diversos, desde carros, semanais, de informação, para o público adolescente e até revistas de fofoca. Todo o material é fruto de doação de pacientes e funcionários. São realizados, segundo Thaís, cerca de 50 atendimentos por mês.

Thais comenta que essa atividade fez com que um paciente contasse toda a sua trajetória de internação dentro do Hospital das Clínicas. “Ele falou sobre todos os setores que já havia passado no HC e os motivos das internações. Por fim, disse que o melhor lugar que havia ficado tinha sido o IOT”, afirma. Segundo ela, uma das idéias do grupo, para o futuro, é passar a anotar essas histórias para publicá-las, seja interna ou externamente. “Mas por enquanto ainda estamos estudando essa possibilidade, firmando mais o projeto, para empreender a iniciativa”, finaliza a terapeuta ocupacional.

Texto: Valéria Dias
Fonte: Agência USP

Publicado em: 30/07/2009

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