Estresse
 

O QUE É ESTRESSE?

Estresse é um termo retirado da física, e significa qualquer força que aplicada sobre um sistema, leva à sua deformação ou destruição. Aplicando-se o termo ao homem vê-se que estresse é qualquer estímulo que afeta negativamente a pessoa humana. Aí surge a pergunta: o que é afetar negativamente o homem? Na verdade, existem vários tipos de estímulos. Para nossos objetivos, dividimos os estímulos em absolutos e relativos absolutos - como ruído, falta de oxigênio, pressão física.
relativos - como todas as nossas dificuldades no dia a dia. São relativos porque não dependem tanto de "quanto" ou mesmo da "natureza" do problema, mas sim da maneira como são interpretados.

CANSAÇO X ESTRESSE

Cansaço nem sempre é uma coisa ruim. Todos nós já vivenciamos situações em que no final do dia o corpo pedia um banho e uma cama, mas havia uma clara sensação de bem estar. Em geral uma atividade pode se tornar muito gratificante quando possui um significado especial para a pessoa e quando oferece desafios à altura das nossas capacidades. No entanto, existem diversas outras pressões que podem estar provocando um desgaste desnecessário.

Se você estiver vivendo pressões que não diminuem, com situações que mobilizam seu corpo para lutar ou fugir várias vezes ao dia, ou ainda com um saldo negativo em matéria de vazão das reações de alarme, seu corpo vai avisar que o estresse está acontecendo. Pode ser que você mesmo perceba. Mas pode ser necessário que alguém lhe aponte o alarme. Por isso, é sempre interessante prestar atenção às observações de pessoas íntimas. Mesmo que você não esteja no momento com os sintomas que vou descrever, é muito importante conhecê-los para saber o ponto em que será necessário desacelerar o ritmo.

QUANDO COMBATER O ESTRESSE

Estresse não é ruim em si mesmo. Em doses adequadas ele é um fator de motivação. Quando abaixo de um certo nível provoca tédio e dispersão. Quando acima de certos níveis, provoca ansiedade e cansaço. E quando em doses ideais, a sensação é de se sentir desafiado, com "garra", sendo que as dificuldades exigem menor esforço:

  Baixo Estresse Estresse Ideal
(eutresse)
Alto Estresse
(distresse)
Atenção dispersa alta forçada
Motivação baixíssima alta flutuante
Realização Pessoal baixa alta baixa
Sentimentos tédio desafio ansiedade/depressão
Esforço grande pequeno grande

Para que possa existir realização pessoal, é necessário que todas as energias concentrem-se no Eustresse.

COMO O ESTRESSE AFETA A PESSOA HUMANA

Em geral o estresse se manifesta em 3 fases distintas:

Reação Aguda ao Estresse, é desencadeada sempre que nosso cérebro, independentemente de nossa vontade, interpreta alguma situação como ameaçadora.
Fase de Resistência, acontece quando a tensão se acumula, e sua principal característica são flutuações no nosso modo habitual de ser e maior facilidade para termos novas reações agudas.
Fase de Exaustão, há uma queda acentuada de nossos mecanismos de defesa.

PRIMEIRA FASE: A REAÇÃO AGUDA AO ESTRESSE

Todas as vezes que enfrentamos desafios, que nosso cérebro independentemente de nossa vontade encara a situação como potencialmente perigosa, nosso organismo se prepara para lutar ou fugir da situação. Essa era a estratégia que nossos ancestrais do período pleistoceno (a idade da pedra) usavam para escapar dos perigos efetivos que tinham que enfrentar no seu dia-a-dia. Nosso mundo mudou, mas ainda possuímos estruturas cerebrais que respondem como nossos ancestrais.

SEGUNDA FASE: UM EQUILÍBRIO TRANSITÓRIO

Na segunda fase do estresse, ocorre um equilíbrio provisório. A pessoa parece que está bem, mas novos estímulos encontram menos resistência em desencadear novas Reações de Estresse Agudo.

É muito importante que você saiba que o que estamos procurando é uma alteração em seu padrão normal de funcionamento. Existem 4 tipos de alarme, todos representando mudanças no seu modo habitual de viver e que em geral indicam que você já está na segunda fase do estresse. Normalmente todos são acionados, mas um deles geralmente destaca-se mais. São eles:

O ALARME DAS REAÇÕES EMOCIONAIS

As mudanças emocionais podem ser de dois gêneros: para o lado da agitação ou para o lado da apatia. A agitação se manifesta por uma certa irritação e eventualmente maior cinismo. Parece preocupar-se demais e por pequenos motivos você fica nervoso, explode com facilidade,sua paciência vai a zero. A ansiedade (expectativa de que algo de ruim vai acontecer) é freqüente e afeta especialmente o sono.

Ou então você começa a se sentir incapaz, um inútil na vida. A tristeza passa a ser dominante no seu humor, podendo ocorrer vários episódios de choro por um motivo pequeno, ou mesmo sem motivo algum. Costuma haver diminuição do apetite sexual, com fracassos de desempenho que geram mais ansiedade e depressão. O cansaço parece vir com mais facilidade. Você procura não falar com as pessoas, mesmo porque parece que não tem o que falar. Sente-se cada vez mais desiludido.

Na maioria das vezes há uma mistura da agitação e da apatia, quando o estado de espírito costuma ficar parecendo um ioiô, ora com euforia e um excesso de energia, ora com tristeza e melancolia. Lembre-se: para ser um sinal de alarme, é preciso que esteja ocorrendo uma mudança. Esse não pode ser o seu estado natural. É possível que alguém íntimo observe: "O que está havendo? Você sempre foi calmo, controlado, sempre resolvia os problemas com precisão e aparentemente sem muito esforço. Agora fica brigando por qualquer coisa, seu trabalho está acumulado, e quando é feito sai com qualidade ruim. Você está bem? Precisa de ajuda?".

O ALARME DAS MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO

Esse é o correspondente externo das emoções. Pode ser que você não esteja sentindo mais apatia ou mais agitação, mas pessoas de sua confiança vão lhe mostrar sua alteração de comportamento. Por isso, é importante considerar quando algumas pessoas, especialmente as mais íntimas, apontam mudanças no seu modo de ser habitual.

Para o lado da apatia, parece haver uma lentificação dos movimentos, a coordenação motora fica comprometida e pequenos acidentes (como tropeçar na escada ou derrubar objetos) podem se tornar freqüentes.

A maior parte das pessoas que observei parece ficar com um nível de atividade mais acelerado, falando abruptamente e num tom mais alto, com movimentos globais mais rápidos. Agia às vezes como uma "barata tonta", ocupando-se o dia inteiro mas sem conseguir terminar nenhuma tarefa. Também é freqüente a mudança de certos hábitos, como por exemplo os de alimentação, em geral para o lado do excesso, inclusive de bebidas alcoólicas.

Quem sempre foi "caseiro" pode de repente sair caçando as secretárias do andar. Quem andava de terno cinza e gravata pode começar a andar com as roupas mais espalhafatosas. Ou vice versa. Não é um tipo de comportamento isolado que aponta o estresse. O que importa são mudanças no padrão de comportamento. É essa mudança que constitui o alarme de que algo pode não estar bem.

O ALARME DE DISTÚRBIOS DA CONCENTRAÇÃO E RACIOCÍNIO

Às vezes sua produtividade pode aumentar. Parece que o raciocínio fica melhor, sua concentração idem. Podemos chamar de eustresse, o estresse positivo. A pressão e o desafio parecem funcionar como oxigênio puro no motor à combustão. ótimo! Só tenho a observar que esse gasto de energia deve ser administrado, especialmente para que situações de vida mais calmas, com menos desafios, não passem elas mesmas a serem fatores de pressão insuportável. É como se o indivíduo se alimentasse de problemas.

O que mais perturba são as alterações que pioram a produtividade. O raciocínio às vezes parece estar acelerado, às vezes fica lento, mas em geral parece ficar confuso. A lógica parece desaparecer, havendo tendência a adiar decisões. Há também dificuldade em estabelecer prioridades.

A memória costuma ficar diminuída, com esquecimentos freqüentes. Não para algum fato desagradável da sua vida, que seria normal e saudável, mas fatos do cotidiano comuns, como números de telefone, datas, compromissos.

O ALARME DAS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS

Há dois grupos principais de sintomas: os musculares e os vegetativos. Os sintomas musculares incluem tensão muscular que mantém os dentes cerrados ou rangendo, dores nas costas (especialmente nos ombros e nuca), dores de cabeça (em geral como um capacete), sensação de peso nas pernas e braços.

Já os sintomas vegetativos incluem episódios de diarréia, suores frios, sensação de calor intercalada com frio, mãos geladas, transpiração abundante, aumento do número de batimentos cardíacos, respiração rápida e curta, má digestão.

Em outras palavras, você começa a ter crises mais freqüentes dos sintomas da primeira fase.

TERCEIRA FASE: E SE O ESTRESSE CONTINUAR?

Na terceira fase do estresse, a resistência do organismo costuma estar bastante baixa e são comuns infecções repetitivas, Além disso, podem ocorrer as Doenças Psicossomáticas, como exemplificadas no quadro abaixo:

Exemplos de distúrbios psicossomáticos

SISTEMA ENFERMIDADES
PELE Eczemas, psoríase, urticária, acne
MÚSCULOS Contração crônica, cefaléia tensional
RESPIRATÓRIO Asma bronquica, dispnéia ansiosa
CARDIOVASCULAR Hipertensão arterial, arteriosclerose, infarto
GASTROINTESTINAL Gastrite, úlcera, diarréia, constipação
EMOCIONAL Ansiedade, depressão e equivalentes


TRATAMENTO DA PRIMEIRA FASE

Nesta fase, é importante dar chance ao organismo se reparar. Algumas sugestões:

Procure fazer pequenas pausas no trabalho, fazendo um pequeno exercício de relaxamento a cada 60 ou no máximo 90 minutos;
Exemplo de exercício de relaxamento: respire profunda e lentamente, inspirando somente pelo nariz, segurando o ar por 5 a 7 segundos, e soltando o ar o mais lentamente que conseguir pela boca. Repita por 3 vezes. Na seqüência, contraia os músculos do corpo, mantendo contraído por 5 segundos, e soltando abruptamente. Repetir por mais 3 vezes.
Se não puder tirar férias regulares, procure reservar algumas horas do dia para diversão, longe de preocupações;
Procure alguém para conversar e desabafar. Não guarde todos seu problemas para você;
Cuidado com a tirania dos devo. Diminua seu perfeccionismo evitando falar consigo mesmo em termos de devo fazer isso ou aquilo. Prefira a expressão eu prefiro, ou eu quero fazer isso ou aquilo.
Não fique muito tempo sem comer. Nunca saia de casa sem um café da manhã no mínimo razoável.
Comece um programa de atividade física; já.
Procure organizar seu dia com no mínimo uma lista de coisas a fazer (e telefonemas a dar) que deverá ser revisto pela manhã e no final da tarde.
Reserve alguns minutos do seu dia para instrospecção. Não é perda de tempo, é investimento.
Ajude alguém. Atividades filantrópicas são comprovadamente um fator de aumento de auto-estima e diminuição do estresse.
Evite estimulantes como cafeína (café e bebidas com cola) assim como energéticos rápidos (bebidas para atletas)

TRATAMENTO DA SEGUNDA FASE

Utilize todas as sugestões da primeira fase, mas idealmente procure auxílio profissional. É muito provável que seja necessário um programa de recuperação.

TRATAMENTO DA TERCEIRA FASE

Procure auxílio profissional. Deverá ser um programa que contemple todos os aspectos do estresse (e não apenas os sintomas). É em geral um programa lento e gradual, mas os resultados costumam compensar.

AUTO-ESTIMA E O ESTRESSE

Auto estima, em poucas palavras, é a opinião que temos de nós mesmos. Todos nós necessitamos dar e receber atenção, aprovação das pessoas. Quem não quer se sentir uma pessoa querida, admirada? Aí começa o problema. Em primeiro lugar, só sabemos se as normas impostas pela família e pela sociedade estão sendo cumpridas através do espelho distorcido da reação das pessoas.

Você age, gostam de você, portanto esse deve ser o caminho certo. Ou então você começa a receber indícios de que a coisa não anda bem. O pior ocorre quando as mensagens são fechadas, não evidenciam o que está acontecendo no momento, mas passam a formar uma caricatura da pessoa.

Exemplos:
Será que você não consegue ser pontual? Pelo amor de Deus, pare se agir como o seu tio. Todo mundo faz assim. Porque você quer ser diferente?

Essas observações são ruins, porque dizem que você é incapaz, sem ao menos considerar os motivos que existem por trás, e muito menos em lembrar uma coisa fundamental: ninguém pode ser tudo para todos. A questão não é só que errar é humano. A questão maior é o fato de que um defeito em certas circunstâncias poder se tornar uma qualidade. Portanto, a sugestão nesta área é de reconsiderar a quantidade e as circunstâncias de reconhecimento mínimo necessário para seguir na vida.

É preciso estar atento para o fato de que nunca se consegue agradar a todos. Só que em geral, procuramos a aprovação das pessoas que nos são importantes, e não de todo o mundo. Aqui também é importante estar atento a uma verdade fundamental: as pessoas não são perfeitas.

É o óbvio, mas emocionalmente esquecido: aquela pessoa que para você é tão importante, sempre terá dificuldades pessoais, ou mesmo um sistema de crenças que nunca será igual ao seu.

Na verdade, quando nos sentimos frustrados por não receber a aprovação de quem considerávamos importante, convém perguntar se esse é um sinal de que se agiu errado e é preciso mudar, ou é o outro que não está conseguindo por alguma razão pessoal aceitar o que se está propondo. O que está em jogo é sua opinião a respeito de você mesmo, sua auto-estima. O resultado da avaliação incorreta é estresse desnecessário.

Antes de chegar a uma opinião definitiva sobre seu desempenho, procure primeiro aceitar o fato de que está se repetindo uma situação primitiva: você está com fome de aprovação, e como ela está demorando a chegar, você abre o berreiro. De uma maneira mais sofisticada, mas assim mesmo é uma repetição da situação primitiva de necessidade, saciedade e frustração.

De qualquer modo, esse conjunto de circunstâncias formam as expectativas dos outros sobre nossas vidas, que são introjetadas, ficando no nosso íntimo de maneira quase desapercebida mas com enorme força. Essa força, é claro, ajuda a moldar o nosso sonho e também a opinião que temos sobre nos mesmos.

Autor: Cyro Masci
Fonte: A Hora da Virada: enfrentando os desafios da vida com equilíbrio e serenidade. Ed. Saraiva. 4a. edição

Data da Publicação: 10/04/2003
 

 
 
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