1- INTRODUÇÃO
Este trabalho nasceu para trazer aos profissionais
da saúde que trabalham com o aleitamento materno, e principalmente às mães que estão
amamentando ou às mulheres que ainda desejam um dia amamentar seus filhos, apoio e
incentivo nos momentos de insegurança que possam surgir durante esta caminhada do
aleitamento materno.
A amamentação é um símbolo do mais puro amor,
aquele entre mãe e filho. Artistas buscam há anos retratar esta relação onde as duas
pessoas envolvidas são nesse instante, uma única expressão. Michelangelo, Da Vinci e
Picasso, estão entre os grandes artistas, que através deste tema deram vida a pedra,
argila ou tinta.
O aleitamento materno é o fechamento de um ciclo
natural. Este se inicia na concepção, segue por uma gestação de 9 meses em que o feto
fica protegido no ventre materno e termina com a chegada do bebê ao mundo, pela
coroação que é o parto. Levado ao peito da mãe, o bebê instintivamente inicia a
ordenha e a sua luta pela vida.
O ato de amamentar sempre foi passado de geração
em geração nas mais diversas culturas de maneira natural, sem que houvesse a necessidade
de campanhas para estimular este hábito.
Talvez a maior dificuldade seja que hoje em dia o
normal está longe de ser natural, enquanto antigamente era comum ver uma mãe realizada
em amamentar, após a Segunda Guerra Mundial, com o desenvolvimento tecnológico e a
industrialização do leite de vaca, a imagem do bebê está associada à chupetas e
mamadeiras.
Há 10 anos grupos ligados ao aleitamento vêm
trabalhando para torná-lo novamente algo comum, e mais que isso, essencial à vida. Já
estamos conseguindo mudar essa história e junto com este manual, contamos com a sua
valiosa colaboração.
2 - A MAMA
Neste primeiro capítulo, teremos como objetivo
principal, entender as partes que compõem a mama, desde o nascimento até que estas
entrem em função, produzindo vida, amor e afeto. Não é por acaso que nos seres
humanos, as mamas guardam entre elas o coração.
As glândulas mamárias, na espécie humana, podem
ser identificadas quando o embrião conta 6 semanas de vida. Por volta do quinto mês de
vida intra uterina, já estão bem desenvolvidos o mamilo, a aréola e o sistema de ductos
que poderão conduzir o leite.
Ao nascer, as mamas do recém nascido normalmente
encontram-se aumentadas, devido aos hormônios da lactação recebidos pela placenta.
Estas glândulas permanecem inativas até próximo a puberdade quando, no caso das
meninas, os mamilos e aréolas aumentam, pois seus ovários passam a derramar na corrente
sanguínea uma quantidade cada vez maior de estrógeno.
Os ductos continuam se ramificando e se
desenvolvendo, ao mesmo tempo em que vai se depositando gordura ao longo do sistema de
ductos. Esta gordura depositada será responsável pelo tamanho das mamas, o que não irá
interferir na quantidade de leite produzido.
O desenvolvimento das mamas se deve também aos
hormônios pituitários que atuam no crescimento geral do corpo.
NA GRAVIDEZ
No primeiro trimestre da gestação as glândulas de
Montgomery aumentam e a aréola e pele a sua volta, começam a escurecer. Estas glândulas
começam a secretar um lubrificante antimicrobiano, que irá se manter em ação até o
final da lactação.
No segundo trimestre, ao final dos ductos que vinham
se ramificando, começam a se desenvolver os alvéolos onde será produzido o leite. Isso
se torna possível sob a influência dos hormônios que atuavam no ciclo menstrual,
estrógeno e progesterona (pró gestação), e que com a sabedoria e equilíbrio da
natureza, passam a atuar pelo bom desenvolvimento das mamas, preparando-as para o
aleitamento. Neste período, por volta do quinto mês, já existe a produção do colostro
e se necessário do leite, no caso de um parto prematuro.
No terceiro trimestre as aréolas e mamilos crescem
e escurecem ainda mais, isto pode servir como estímulo visual ao recém nascido enquanto
procura a mama.
Imagino que possa ter surgido a dúvida: Se os
alvéolos, na presença da prolactina liberada pela placenta, são capazes de produzir
leite, por que as gestantes não amamentam ?
Na realidade o hormônio responsável pela descida
do leite, a ocitocina, só é produzido pela hipófise quando há o estímulo da criança
na ordenha da mama, mesmo que a prolactina secretada pela placenta já tenha estimulado a
produção de leite. No momento do parto com a expulsão da placenta, a ocitocina será a
principal responsável pela contração uterina, diminuindo as hemorragias pós parto. A
ocitocina será responsável pela contração das células mioepiteliais que envolvem os
alvéolos produtores do leite.
3 - COMO FUNCIONA A MAMA
A partir desse momento vamos
esclarecer como este sistema de glândulas funciona de maneira equilibrada e harmônica
com a vida.
Após o parto e eliminação da
placenta, caem drasticamente os níveis de estrógeno e progesterona, mas ainda mantém-se
altos os índices de prolactina que estimulam os alvéolos a produzir o leite, por esse
motivo, o ideal é que o recém nascido imediatamente após o parto seja levado ao contato
direto com a mãe e inicie o aleitamento. As mamas necessitam ser esvaziadas e o maior
reflexo de sucção neural ocorre na primeira meia hora de vida. Isto justifica a busca
pelo parto humanizado, onde grandes hospitais vêm realizando esses procedimentos no
quarto, onde o recém nascido ficará com a mãe em alojamento conjunto possibilitando o
aleitamento em livre demanda.
Dois aspectos devem ser observados
quanto ao funcionamento da mama; a produção e a ejeção do leite.
PRODUÇÃO
DO LEITE
Quando o bebê mama, as
terminações nervosas presentes no mamilo geram impulsos que são levados até a
hipófise, glândula situada no cérebro, que em sua região anterior irá produzir a
prolactina, sendo liberada na corrente sanguínea seguirá aos alvéolos ativando suas
células secretoras de leite.
EJEÇÃO DO
LEITE
No mesmo momento em que a hipófise
recebe esses impulsos, ela também produz um outro hormônio, porém na sua região
posterior, é a ocitocina, que através da corrente sanguínea chegará às células
mioepiteliais que envolvem os alvéolos, provocando sua contração e a descida do leite
(apojadura) pelos ductos até as ampolas lactíferas sob a aréola.
Esses dois processos ocorrem por
estímulos neuro-hormonais, ou seja, QUANTO MAIS O BEBÊ MAMA, MAIS LEITE É PRODUZIDO.
Em uma pega correta, a língua com
movimentos peristálticos esvaziará as ampolas lactíferas, estimulando a produção e
ejeção de mais leite, enquanto houver estímulo haverá leite.
A prolactina atua mesmo entre as
mamadas produzindo o leite, enquanto a ocitocina atua somente durante a mamada contraindo
os alvéolos.
4 - CONSTITUIÇÃO DO LEITE
O leite é sinônimo de vida, as
mães quando amamentam produzem um alimento balanceado e equilibrado, próprio para seus
filhos que necessitam deste calor. Esta vitalidade se dá somente no aleitamento materno
pois a criança recebe este leite num contato direto com um organismo vivo, a mãe.
O leite é produzido através de
substâncias presentes no corpo da mãe, mais especificamente no sangue materno. Por esse
motivo as mães que planejam transmitir saúde, devem ingerir sempre que possível
alimentos saudáveis por exemplo os de origem orgânica ou biodinâmica, evitando ao
máximo pesticidas, inseticidas e outros tóxicos.
Outro fator que preocupa as mães
além da qualidade do leite é a quantidade. Deve-se adotar a livre demanda, ou seja,
sempre que o bebê manifestar vontade pelo leite. Esta regra sempre funcionou para os
povos mais primitivos e ligados aos ritmos da natureza. Nos centros mais urbanos sabemos
que quase não existe este ritmo no trabalho, no lazer, no sono e principalmente na
alimentação, aí a importância de se programar e estabelecer um ritmo natural entre a
mãe e o bebê que pode girar em torno de 8 mamadas por dia, ou de 3 em 3 horas.
O ritmo está ligado intimamente com
a vida, na inspiração e na expiração do ar, na sístole e diástole do coração, no
dia e na noite, nas plantas que perdem suas folhas no outono e exibem suas flores na
primavera e no bebê que ordenha e esvazia a mama permitindo que essa se renove e produza
mais e mais leite.
A falta de ritmo, a vida desregrada
são sinais de desequilíbrio e por consequência doença.
O
colostro que já estava produzido pela mãe é o primeiro alimento do recém nascido nas
48 horas iniciais de vida, quando ocorre a apojadura (descida do leite). O colostro é
muito rico em anticorpos, daí ser chamado de primeira vacina, também possui uma leve
característica laxante que ajuda a limpar o organismo de substâncias desnecessárias,
por exemplo o mecônio (primeiras fezes do bebê). Ele estará misturado ao leite até
próximo do décimo dia, quando desaparece totalmente.
A coloração amarelada e o pequeno
volume de colostro dão lugar ao leite branco que será produzido em quantidades maiores,
tanto quanto forem estimuladas as mamas na ordenha.
As células secretoras dos
alvéolos, retiram do sangue materno: água, partículas de proteína, glóbulos de
gordura, lactose (açúcar), sais minerais, vitaminas e anticorpos, entre outras
substâncias importantes para a composição do leite. |
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O leite materno se
altera durante toda a amamentação, ele inicia na mamada ainda ralo e transparente e já
no final da mesma se apresenta esbranquiçado com alto índice de gordura, assim, as
papilas gustativas do bebê detectam a presença destes lipídios e dão sinal de
saciedade ao cérebro do bebê. É capaz ainda de fornecer ao bebê os anticorpos
necessários naquele determinado momento. O principal fator imunológico presente no leite
materno é a IgA secretória que atua revestindo os intestinos do bebê, impedindo a
aglomeração e multiplicação de bactérias e vírus.
O leite tem como características
básicas:
Ser de fácil digestão e não
sobrecarregar o intestino e os rins do bebê. Isto explica as fezes amarelas e pastosas e
a urina clarinha e abundante, quase sem odor.
Proteger o bebê de muitas doenças,
devido o seu potencial imunológico se modificando de acordo com as necessidades do bebê.
É prático, não precisa ferver,
misturar, coar, dissolver ou esfriar, está sempre pronto em qualquer hora e lugar na
temperatura ideal.
Apresentar de forma balanceada
carboidratos, gorduras e proteínas, necessários a cada fase da vida do bebê.
Prevenir a obesidade infantil pois a
criança é saciada pela qualidade do alimento e não pela quantidade.
Menor probabilidade de desenvolver
doenças alérgicas como eczemas, bronquites e asmas.
Prevenir as diarréias, responsáveis por
morte principalmente em famílias de baixa renda.
5 - PREPARAÇÃO PARA O ALEITAMENTO MATERNO
A partir do momento que a mulher
descobre que está grávida tudo passa a ser novidade, ninguém é capaz de notar as
diferenças que somente a mulher começa a sentir. É natural que nesse período apareçam
muitas dúvidas, quanto ao sexo do bebê, semelhanças com o pai ou a mãe, tipo de parto
e uma questão em especial que traz muita insegurança: será que vou conseguir amamentar
meu bebê ?
Para todas essas dúvidas o que deve
marcar essa fase é a tranquilidade, principalmente através de informação passada por
profissionais da saúde capacitados em aleitamento materno e nos diversos grupos que
apoiam, orientam e incentivam a amamentação.
A mulher, e futura mamãe, é a
principal responsável por tudo o que o feto recebe. Geneticamente ele tem as
características do pai e mãe e suas famílias, mas depende da gestante nutri-lo por 9
meses muito além de comida, com muito amor.
Neste período as refeições devem
ser feitas em menor quantidade porém mais vezes ao dia, é possível que nos primeiros
meses ocorram enjôos matinais que podem ser evitados pela mastigação de pão integral
seco ou comendo um pedaço de maça ao se levantar. Todo alimento deve ser triturado
lentamente para que a saliva inicie o processo digestivo.
O aumento do peso na mulher grávida
gira em torno de 1Kg ou um pouco mais ao mês, sendo que deve-se ter esses dados como
referência e não como uma obrigação, há de se considerar as diferenças
constitucionais de cada mulher.
A dieta deve conter cereais
integrais, frutas e verduras, que estimulam o bom funcionamento do intestino, se essas
medidas não forem suficientes, podem ser usados farelo de trigo, ameixas secas ou deixar
de molho de um dia para outro uma colher se sopa de semente de linhaça e de manhã
misturar com uma colher de mel e ingeri-la. Deve-se evitar laxativos.
É primordial que nesta fase a
futura mãe já tenha definido quem será o médico e onde se realizará o parto. Procure
escolher um médico em que você confie e que possa lhe orientar, indicando a maternidade
que apoie as iniciativas do Hospital Amigo da Criança (IHAC) como por exemplo iniciar a
amamentação na primeira meia hora após o parto, praticar alojamento conjunto 24 horas
por dia, não dar bicos artificiais ou chupetas às crianças amamentadas, informar todas
as gestantes atendidas sobre as vantagens e o manejo da amamentação. O título de
Hospital Amigo da Criança, é um selo concedido pela UNICEF atribuído às maternidades
que desenvolvem projetos de apoio e incentivo ao aleitamento materno.
A natureza prepara as mães assim
como as mamas para o aleitamento materno. Durante a gravidez a espessura mamilar aumenta
1,5 mm e o diâmetro areolar, cerca de 15 mm em média, as glândulas sebáceas existentes
na aréola desenvolvem-se para produzir mais gordura e lubrificar melhor a região. Ainda
assim podemos contribuir com alguns cuidados especiais bem antes do aleitamento. Durante a
gestação deve-se expor as mamas a banho de sol por 15 a 20 minutos antes das 10 da
manhã, este procedimento de forma adequada e contínua aumenta a resistência da região
da aréola e mamilo.
Outro recurso aceito por uns e
contestado por outros, é a partir do quarto mês proporcionar pequenos atritos à região
mamiloareolar através de fricções com uma toalha felpuda, uso de soutiens de
amamentação abertos ou até mesmo o não uso de soutien. Os que defendem esta prática
dizem que ela leva resistência da região, os que são contra, acreditam que ela remova a
camada de proteção natural. Outra possibilidade pouco praticada porém bastante
eficiente, é passar suco de limão sobre a região da aréola e mamilo que também a
tornará mais resistente. Vale lembrar que nunca deve-se passar o limão e se expor ao
sol, evitando queimaduras. Todas essas técnicas são importantes, mas só isso não
basta, é necessário também verificar a flexibilidade desta região para que não haja
as temíveis rachaduras na hora de amamentar.
Existem 4
tipos de mamilos:
Mamilo Protruso - corresponde a 92% das mulheres, quando estimulado fica saliente e
proporciona facilmente a amamentação.
Mamilo Semiprotruso - corresponde a 7% das mulheres, fica pouco saliente quando estimulado
mas permite com certa facilidade o aleitamento.
Mamilo Pseudo-invertido - corresponde a 0,5% das mulheres, quando estimulado se
exterioriza muito pouco, voltando logo em seguida ao estado invertido, dificilmente
possibilita a amamentação.
Mamilo Invertido - corresponde a 0,5% das mulheres, mesmo quando estimulado não se torna
saliente, ficando no máximo no mesmo plano da aréola, não possibilita a amamentação.
Um mamilo é considerado mal formado
quase sempre por causa de aderências na base. Alguns profissionais sugerem exercícios na
tentativa de romper essas aderências, porém não se pode garantir o sucesso.
Com os dedos indicadores colocados
na base do mamilo sobre a aréola, pressione e distenda a base do mamilo firmemente.
Repita esses movimentos no sentido horizontal várias vezes e depois o mesmo procedimento
no sentido vertical.
Num segundo exercício segure o
mamilo com o polegar e indicador da mesma mão torcendo-o ora para a direita e ora para a
esquerda, repita várias vezes ao dia. Os dois exercícios devem ser repetidos, mas nunca
se deve sentir dor, no início um pequeno ardor é esperado.
A partir de agora a mãe está
pronta para secretar amor, levar vida e gerar alegria comprovada na satisfação do bebê
ao final de cada mamada.
6 - COMO AMAMENTAR O BEBÊ
Nove meses se passaram, a relação
que começou delicada, cheia de inseguranças e incertezas, já estava equilibrada e
estabilizada, sofre novas mudanças com a chegada do bebê. Todos querem ver o rostinho
dele, segurá-lo e participar à nova mãe suas experiências, mesmo que estas não sejam
muito positivas.
Existem os instintos da mãe e do
bebê, mas mesmo assim, é preciso aprendizado de ambas as partes. Surge então uma nova
relação entre mãe e filho. Como todo início, necessita pequenos ajustes e algumas
vezes um pouco de treino, portanto não se deve esperar muito para começar. Lembremos que
o maior reflexo de sucção neural se dá na primeira meia hora de vida (iniciativa
Hospital Amigo da Criança - 4).
O bebê deve receber EXCLUSIVAMENTE
o leite materno até os 6 meses de idade, só então poderão ser introduzidos outros
alimentos, lembrando que o aleitamento deverá continuar até os 24 meses. Esses períodos
são definidos pela mãe em íntima sintonia com o bebê de maneira natural.
A mãe deve ficar atenta para que a
posição do bebê seja a mais vertical possível, facilitando a deglutição do leite e
posteriormente a eliminação de gases através dos arrotos. Ela deve estar sempre em
posição confortável, de preferência com as costas bem apoiadas para fazer com que
esses momentos sejam aproveitados ao máximo em quantidade, mas principalmente em
qualidade.
No início os períodos entre as
mamadas tendem a ser mais curtos e o tempo de aleitamento menor, com o passar dos dias
mãe e filho se entendem e definem com certa tranquilidade as regras desse jogo de puro
afeto.
A principal característica de um
bom aleitamento materno é uma pega correta, ela responde por um esvaziamento completo das
mamas sem que ocorra rachaduras na aréola e mamilo. O bebê deve sempre abocanhar a maior
parte da aréola, para isso, encosta-se o mamilo no lábio inferior para que o bebê abra
bem a boca e coloque quase toda aréola para dentro. O mamilo, durante o aleitamento, pode
chegar a 3 vezes o seu tamanho normal, dentro da boca ele é pressionado (ordenhado),
assim como a aréola e suas ampolas lactíferas, pela língua através de movimentos
peristálticos que partem da ponta dela e se dirigem até o estômago.
Algumas mães podem estranhar o fato
de com o leite materno o bebê mamar em intervalos menores e passar 4 ou 5 dias sem
evacuar. Mais uma vez a natureza se mostra sábia, o leite materno é digerido facilmente,
aliás até o sexto mês é o único alimento que o bebê está preparado para digerir,
por isso por volta de 3 horas o bebê necessita de mais leite, muito diferente do leite de
vaca, que é o melhor leite para os bezerros, que precisam ganhar peso rapidamente pois
ficam expostos ao relento. O leite materno é aproveitado quase que totalmente pelo bebê,
não sobrando quase nada para a formação do bolo fecal.
Quando o bebê nasce ele ainda tem
muito o que desenvolver e crescer, principalmente o esqueleto facial que é muito
deficiente em relação ao crânio. Todo estímulo para este crescimento se dá através
da amamentação, um exercício que requer uso da mesma musculatura que estará envolvida
na trituração dos alimentos por toda a vida. Se não houver a amamentação não
ocorrerá o desenvolvimento adequado da boca e suas funções, fonação, mastigação e
equilíbrio postural.
Ao mamar o bebê causa um vedamento
labial junto à mama, permitindo que sua respiração seja exclusivamente nasal. A mãe
deve cuidar para que a mama não obstrua a cavidade nasal para não interromper a mamada.
O que pode levar a essa obstrução
é o fato das mamas estarem muito cheias de leite. Já dissemos que com o tempo mãe e
bebê equilibram as quantidades de leite produzida e consumida, porém no início este
leite pode estar em grande quantidade na mama e ocorre o ingurgitamento mamário, isto
pode causar dor e também levar a fissuras.
A recomendação é que se faça a
ordenha manual das mamas, pressionando-as na região das ampolas lactíferas e também na
base das mamas. Não se preconiza bombinhas ou métodos que façam sucção (pressão
negativa) pois podem gerar ainda mais dor e ferimentos, na ordenha manual a mãe controla
a pressão até o limite em que não haja muita dor. A melhor maneira de se esvaziar
completamente a mama a cada mamada é através de uma pega correta e a perfeita ordenha
pelo bebê.
Outro problema que a mãe pode
encontrar é a pequena produção de leite nos primeiros dias, lembrando que a produção
ocorre devido ao estímulo na mama, portanto nada melhor do que dar o peito ao bebê.
A mãe pode contribuir buscando se
tranquilizar e relaxar, é fundamental a participação dos familiares para que isso
ocorra. A mãe deve beber muita água, também pode-se lançar mão de chás que estimulam
a lactação, chá só para as mães, para os bebês somente leite materno.
As mães não devem se preocupar com
regras rígidas, muito menos se culpar ou penitenciar por qualquer insucesso, todas essas
informações devem ser colocadas em prática e aproveitadas de maneira natural.
7 - BENEFÍCIOS PARA A MÃE
Quando o assunto é aleitamento
materno, logo se pensa na saúde da criança, nas vantagens que esta leva sobre aquelas
que não são amamentadas. A mulher que era o centro das atenções até o nascimento do
bebê, muitas vezes se enche de insegurança chegando, em alguns casos, à depressão.
Acredito que o maior de todos os
benefícios da amamentação é a segurança que a mãe adquire e a certeza de que durante
6 meses aquele novo ser, frágil e indefeso, não precisará de outra coisa que não seu
amor, sua proteção e seu precioso leite.
Durante o aleitamento, as mães
produzem a ocitocina que é o hormônio responsável pela contração dos alvéolos onde o
leite é produzido, além de gerar as contrações que diminuirão o volume do útero
ajudando a expulsar a placenta. Essa contração se dá também ao nível de vasos
sanguíneos diminuindo o sangramento e evitando as hemorragias pós parto, uma das
principais causas de mortalidade materna no Brasil.
As mães que amamentam, são
protegidas contra anemia, já que estas demoram mais tempo para menstruar, evitando assim
perder o seu "estoque de ferro" com o sangramento mensal.
A amamentação está relacionada
coma a diminuição do risco de osteoporose na vida madura. Pesquisas mostram que mulheres
que não amamentaram têm uma incidência 4 vezes maior da doença.
Dentre as mães diabéticas, que
necessitam uso de insulina, constatou-se que no pós parto as que amamentam têm uma
redução significante no uso de doses de insulina em relação às mães que dão
mamadeira.
A amamentação estabiliza o
progresso da endometriose materno. Não amamentar aumenta o risco de câncer de ovário e
câncer endometrial.
Mulheres que amamentam voltam ao
peso normal, de antes da gravidez, muito mais rápido devido ao grande gasto calórico
durante as mamadas.
O aleitamento também reduz o risco
da mulher desenvolver o câncer de mama. Pesquisas indicam que o aleitamento entre 4 e 12
meses reduz em 11% a incidência da doença, comparando às mães que amamentaram por 3
meses ou menos e que num período de 24 meses essa incidência cai 25%.
Também já existem dados mostrando
que as mulheres que foram amamentadas apresentam um risco 25% menor de desenvolver a
doença, que as mulheres que tomaram mamadeira.
Numa época onde a praticidade fala
mais alto, a mãe se beneficia dando o peito, pois não precisa sair de casa em busca de
leites especiais, mamadeiras ou chucas, aliás não precisa ir nem até a cozinha preparar
o leite, ferver mamadeira, acertar temperatura ou gosto do preparo e ainda questionar se
pode estar azedo ou estragado. Basta colocar o bebê junto ao peito e permitir que ele se
satisfaça com o amor materno.
8 - BENEFÍCIOS PARA A FAMÍLIA
O recém nascido passou 9 meses em
segurança, crescendo e se desenvolvendo no útero materno, agora instintivamente busca o
peito de sua mãe, lá procura muito além do leite. Quando em contato com sua mãe sente
o mesmo ritmo que pulsou durante toda a gestação próximo à placenta que o envolvia,
encontra o calor materno e recebe carinho e atenção que não podem ser transmitidos de
outra forma que não seja a amamentação.
É muito importante o contato
físico entre mãe e filho, as mães que se propõem a dar o peito exclusivamente até o
sexto mês de vida, adquirem um conhecimento e uma afinidade incrível com o bebê e este
se beneficia física e emocionalmente pois suas necessidades são sentidas e atendidas
pela mãe de maneira natural.
Bebês prematuros são especialmente
beneficiados com a amamentação, pois o leite produzido por suas mães é diferente
daquele produzido pelas mães que tiveram tempo normal de gestação. No primeiro mês
pós-parto o leite tem uma composição semelhante ao colostro, que é muito mais forte.
O leite materno contribui no
controle da dor, pois possui uma substância química em sua composição que ajuda a
suprimi-la, a endorfina. Uma boa sugestão é amamentar o bebê logo após a vacina ou
até mesmo vaciná-lo enquanto mama.
Crianças amamentadas têm um
índice bem menor de obesidade infantil, pois são saciadas pela qualidade e não
quantidade de leite. Quando são alimentados com mamadeira, são usados leites e outros
produtos para engrossar as refeições e engordar as crianças.
Crianças em aleitamento materno
exclusivo têm menores quadros infecciosos porque o leite materno é livre das bactérias
que se acumulam em mamadeiras e embalagens mau conservadas, além disso somente a mãe
produz os anticorpos necessários já descritos anteriormente.
A amamentação proporciona
exercícios excenciais para o perfeito desenvolvimento das arcadas dentárias e
posteriormente um encaixe adequado dos dentes. Também é responsável pela tonicidade
muscular correta da língua, músculos dos lábios, das bochechas e músculos da
mastigação, permitindo a realização completa das funções da boca durante a vida.
As crianças que mamam têm menor
risco de serem respiradores bucais e desenvolverem doenças alérgicas como asma,
bronquite, sinusite, renite, etc. Têm risco 3 a 4 vezes menor de desenvolver otite
média.
Pesquisas vêm sendo realizadas
sobre aleitamento materno e já mostram diversas vantagens: a prevenção contra cegueira
noturna em crianças de idade pré escolar, promovida pelo aleitamento materno, onde o
leite apresenta-se como fonte de vitamina A; a redução do índice de doenças
degenerativas como a diabetes; o aumento do quociente de inteligência (QI); e o aumento
na incidência de esclerose múltipla associada a falta da amamentação.
REFERÊNCIAS
BURKHARD, G. K., "Novos caminhos de alimentação" vol. 3, S. Paulo: CLR
Balieiro, 1984.
CAMARGO, M. C. F., "Atualização na Clínica Odontológica: Programa Preventivo de
Maloclusões para bebês", 18. CIOSP, 1998.
CAMPOS, M. A. B. , "Construção Social da Prática do Aleitamento Materno Através
dos Tempos", Revista Pediatria Atual vol. 12, n.8 - Ago 1999.
Conselho de Mães Lactantes da Associação de Boston para Orientação ao Parto,
"Amamentando seu bebê: Guia prático para a nova mãe", S. Paulo: Paulinas,
2000.
LOTHROP, H., "O livro da amamentação", S. Paulo: Paulinas, 1999.
MITCHELL, H. S. , RYNBERGEN, H. J., ANDERSON, L. e DIBBLE, M. V., "Nutrição",
S. Paulo, 1978.
PRYOR, K., "A arte de amamentar", S. Paulo: Summus, 1981.
VINHA, V. H. P., "O livro da amamentação", S. Paulo: CLR Balieiro, 1999.
WOESSNER, C. , LAUWERS, J. e BERNARD, B. "Amamentação hoje", S. Paulo:
Paulinas, 1999.
WOLFF, O. , "O que comemos, afinal ?", S. Paulo: Antroposófica, 2000
Autor: Dr.
Alexandre Rabboni
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