Aleitamento Materno, um Banho de Vitalidade - Página I
 
Página I
1. Introdução
2. A mama
3. Como funciona a mama
4. Constituição do leite
5. Preparação para o aleitamento
6. Como amamentar o bebê
7. Benefícios para a mãe
8. Benefícios para o bebê
 
Página II
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9. Benefícios para a família
10. Alternativas na impossibilidade do aleitamento
11. Orientações para um desmame saudável
12. Amamentação na odontologia
13. Produtos que prejudicam a amamentação
14. Benefícios para a natureza
15. Bancos de leite humano
16. Tabus, lendas e mitos
17. Conclusão

   1- INTRODUÇÃO

Este trabalho nasceu para trazer aos profissionais da saúde que trabalham com o aleitamento materno, e principalmente às mães que estão amamentando ou às mulheres que ainda desejam um dia amamentar seus filhos, apoio e incentivo nos momentos de insegurança que possam surgir durante esta caminhada do aleitamento materno.

A amamentação é um símbolo do mais puro amor, aquele entre mãe e filho. Artistas buscam há anos retratar esta relação onde as duas pessoas envolvidas são nesse instante, uma única expressão. Michelangelo, Da Vinci e Picasso, estão entre os grandes artistas, que através deste tema deram vida a pedra, argila ou tinta.

O aleitamento materno é o fechamento de um ciclo natural. Este se inicia na concepção, segue por uma gestação de 9 meses em que o feto fica protegido no ventre materno e termina com a chegada do bebê ao mundo, pela coroação que é o parto. Levado ao peito da mãe, o bebê instintivamente inicia a ordenha e a sua luta pela vida.

O ato de amamentar sempre foi passado de geração em geração nas mais diversas culturas de maneira natural, sem que houvesse a necessidade de campanhas para estimular este hábito.

Talvez a maior dificuldade seja que hoje em dia o normal está longe de ser natural, enquanto antigamente era comum ver uma mãe realizada em amamentar, após a Segunda Guerra Mundial, com o desenvolvimento tecnológico e a industrialização do leite de vaca, a imagem do bebê está associada à chupetas e mamadeiras.

Há 10 anos grupos ligados ao aleitamento vêm trabalhando para torná-lo novamente algo comum, e mais que isso, essencial à vida. Já estamos conseguindo mudar essa história e junto com este manual, contamos com a sua valiosa colaboração.

   2 - A MAMA

Neste primeiro capítulo, teremos como objetivo principal, entender as partes que compõem a mama, desde o nascimento até que estas entrem em função, produzindo vida, amor e afeto. Não é por acaso que nos seres humanos, as mamas guardam entre elas o coração.

As glândulas mamárias, na espécie humana, podem ser identificadas quando o embrião conta 6 semanas de vida. Por volta do quinto mês de vida intra uterina, já estão bem desenvolvidos o mamilo, a aréola e o sistema de ductos que poderão conduzir o leite.

Ao nascer, as mamas do recém nascido normalmente encontram-se aumentadas, devido aos hormônios da lactação recebidos pela placenta. Estas glândulas permanecem inativas até próximo a puberdade quando, no caso das meninas, os mamilos e aréolas aumentam, pois seus ovários passam a derramar na corrente sanguínea uma quantidade cada vez maior de estrógeno.

Os ductos continuam se ramificando e se desenvolvendo, ao mesmo tempo em que vai se depositando gordura ao longo do sistema de ductos. Esta gordura depositada será responsável pelo tamanho das mamas, o que não irá interferir na quantidade de leite produzido.

O desenvolvimento das mamas se deve também aos hormônios pituitários que atuam no crescimento geral do corpo.

NA GRAVIDEZ

No primeiro trimestre da gestação as glândulas de Montgomery aumentam e a aréola e pele a sua volta, começam a escurecer. Estas glândulas começam a secretar um lubrificante antimicrobiano, que irá se manter em ação até o final da lactação.

No segundo trimestre, ao final dos ductos que vinham se ramificando, começam a se desenvolver os alvéolos onde será produzido o leite. Isso se torna possível sob a influência dos hormônios que atuavam no ciclo menstrual, estrógeno e progesterona (pró gestação), e que com a sabedoria e equilíbrio da natureza, passam a atuar pelo bom desenvolvimento das mamas, preparando-as para o aleitamento. Neste período, por volta do quinto mês, já existe a produção do colostro e se necessário do leite, no caso de um parto prematuro.

No terceiro trimestre as aréolas e mamilos crescem e escurecem ainda mais, isto pode servir como estímulo visual ao recém nascido enquanto procura a mama.

Imagino que possa ter surgido a dúvida: Se os alvéolos, na presença da prolactina liberada pela placenta, são capazes de produzir leite, por que as gestantes não amamentam ?

Na realidade o hormônio responsável pela descida do leite, a ocitocina, só é produzido pela hipófise quando há o estímulo da criança na ordenha da mama, mesmo que a prolactina secretada pela placenta já tenha estimulado a produção de leite. No momento do parto com a expulsão da placenta, a ocitocina será a principal responsável pela contração uterina, diminuindo as hemorragias pós parto. A ocitocina será responsável pela contração das células mioepiteliais que envolvem os alvéolos produtores do leite.

   3 - COMO FUNCIONA A MAMA

A partir desse momento vamos esclarecer como este sistema de glândulas funciona de maneira equilibrada e harmônica com a vida.

Após o parto e eliminação da placenta, caem drasticamente os níveis de estrógeno e progesterona, mas ainda mantém-se altos os índices de prolactina que estimulam os alvéolos a produzir o leite, por esse motivo, o ideal é que o recém nascido imediatamente após o parto seja levado ao contato direto com a mãe e inicie o aleitamento. As mamas necessitam ser esvaziadas e o maior reflexo de sucção neural ocorre na primeira meia hora de vida. Isto justifica a busca pelo parto humanizado, onde grandes hospitais vêm realizando esses procedimentos no quarto, onde o recém nascido ficará com a mãe em alojamento conjunto possibilitando o aleitamento em livre demanda.

Dois aspectos devem ser observados quanto ao funcionamento da mama; a produção e a ejeção do leite.

PRODUÇÃO DO LEITE

Quando o bebê mama, as terminações nervosas presentes no mamilo geram impulsos que são levados até a hipófise, glândula situada no cérebro, que em sua região anterior irá produzir a prolactina, sendo liberada na corrente sanguínea seguirá aos alvéolos ativando suas células secretoras de leite.

EJEÇÃO DO LEITE

No mesmo momento em que a hipófise recebe esses impulsos, ela também produz um outro hormônio, porém na sua região posterior, é a ocitocina, que através da corrente sanguínea chegará às células mioepiteliais que envolvem os alvéolos, provocando sua contração e a descida do leite (apojadura) pelos ductos até as ampolas lactíferas sob a aréola.

Esses dois processos ocorrem por estímulos neuro-hormonais, ou seja, QUANTO MAIS O BEBÊ MAMA, MAIS LEITE É PRODUZIDO.

Em uma pega correta, a língua com movimentos peristálticos esvaziará as ampolas lactíferas, estimulando a produção e ejeção de mais leite, enquanto houver estímulo haverá leite.

A prolactina atua mesmo entre as mamadas produzindo o leite, enquanto a ocitocina atua somente durante a mamada contraindo os alvéolos.

   4 - CONSTITUIÇÃO DO LEITE

O leite é sinônimo de vida, as mães quando amamentam produzem um alimento balanceado e equilibrado, próprio para seus filhos que necessitam deste calor. Esta vitalidade se dá somente no aleitamento materno pois a criança recebe este leite num contato direto com um organismo vivo, a mãe.

O leite é produzido através de substâncias presentes no corpo da mãe, mais especificamente no sangue materno. Por esse motivo as mães que planejam transmitir saúde, devem ingerir sempre que possível alimentos saudáveis por exemplo os de origem orgânica ou biodinâmica, evitando ao máximo pesticidas, inseticidas e outros tóxicos.

Outro fator que preocupa as mães além da qualidade do leite é a quantidade. Deve-se adotar a livre demanda, ou seja, sempre que o bebê manifestar vontade pelo leite. Esta regra sempre funcionou para os povos mais primitivos e ligados aos ritmos da natureza. Nos centros mais urbanos sabemos que quase não existe este ritmo no trabalho, no lazer, no sono e principalmente na alimentação, aí a importância de se programar e estabelecer um ritmo natural entre a mãe e o bebê que pode girar em torno de 8 mamadas por dia, ou de 3 em 3 horas.

O ritmo está ligado intimamente com a vida, na inspiração e na expiração do ar, na sístole e diástole do coração, no dia e na noite, nas plantas que perdem suas folhas no outono e exibem suas flores na primavera e no bebê que ordenha e esvazia a mama permitindo que essa se renove e produza mais e mais leite.

A falta de ritmo, a vida desregrada são sinais de desequilíbrio e por consequência doença.

O colostro que já estava produzido pela mãe é o primeiro alimento do recém nascido nas 48 horas iniciais de vida, quando ocorre a apojadura (descida do leite). O colostro é muito rico em anticorpos, daí ser chamado de primeira vacina, também possui uma leve característica laxante que ajuda a limpar o organismo de substâncias desnecessárias, por exemplo o mecônio (primeiras fezes do bebê). Ele estará misturado ao leite até próximo do décimo dia, quando desaparece totalmente.

A coloração amarelada e o pequeno volume de colostro dão lugar ao leite branco que será produzido em quantidades maiores, tanto quanto forem estimuladas as mamas na ordenha.

As células secretoras dos alvéolos, retiram do sangue materno: água, partículas de proteína, glóbulos de gordura, lactose (açúcar), sais minerais, vitaminas e anticorpos, entre outras substâncias importantes para a composição do leite.

O leite materno se altera durante toda a amamentação, ele inicia na mamada ainda ralo e transparente e já no final da mesma se apresenta esbranquiçado com alto índice de gordura, assim, as papilas gustativas do bebê detectam a presença destes lipídios e dão sinal de saciedade ao cérebro do bebê. É capaz ainda de fornecer ao bebê os anticorpos necessários naquele determinado momento. O principal fator imunológico presente no leite materno é a IgA secretória que atua revestindo os intestinos do bebê, impedindo a aglomeração e multiplicação de bactérias e vírus.

O leite tem como características básicas:

Ser de fácil digestão e não sobrecarregar o intestino e os rins do bebê. Isto explica as fezes amarelas e pastosas e a urina clarinha e abundante, quase sem odor.
Proteger o bebê de muitas doenças, devido o seu potencial imunológico se modificando de acordo com as necessidades do bebê.
É prático, não precisa ferver, misturar, coar, dissolver ou esfriar, está sempre pronto em qualquer hora e lugar na temperatura ideal.
Apresentar de forma balanceada carboidratos, gorduras e proteínas, necessários a cada fase da vida do bebê.
Prevenir a obesidade infantil pois a criança é saciada pela qualidade do alimento e não pela quantidade.
Menor probabilidade de desenvolver doenças alérgicas como eczemas, bronquites e asmas.
Prevenir as diarréias, responsáveis por morte principalmente em famílias de baixa renda.

   5 - PREPARAÇÃO PARA O ALEITAMENTO MATERNO

A partir do momento que a mulher descobre que está grávida tudo passa a ser novidade, ninguém é capaz de notar as diferenças que somente a mulher começa a sentir. É natural que nesse período apareçam muitas dúvidas, quanto ao sexo do bebê, semelhanças com o pai ou a mãe, tipo de parto e uma questão em especial que traz muita insegurança: será que vou conseguir amamentar meu bebê ?

Para todas essas dúvidas o que deve marcar essa fase é a tranquilidade, principalmente através de informação passada por profissionais da saúde capacitados em aleitamento materno e nos diversos grupos que apoiam, orientam e incentivam a amamentação.

A mulher, e futura mamãe, é a principal responsável por tudo o que o feto recebe. Geneticamente ele tem as características do pai e mãe e suas famílias, mas depende da gestante nutri-lo por 9 meses muito além de comida, com muito amor.

Neste período as refeições devem ser feitas em menor quantidade porém mais vezes ao dia, é possível que nos primeiros meses ocorram enjôos matinais que podem ser evitados pela mastigação de pão integral seco ou comendo um pedaço de maça ao se levantar. Todo alimento deve ser triturado lentamente para que a saliva inicie o processo digestivo.

O aumento do peso na mulher grávida gira em torno de 1Kg ou um pouco mais ao mês, sendo que deve-se ter esses dados como referência e não como uma obrigação, há de se considerar as diferenças constitucionais de cada mulher.

A dieta deve conter cereais integrais, frutas e verduras, que estimulam o bom funcionamento do intestino, se essas medidas não forem suficientes, podem ser usados farelo de trigo, ameixas secas ou deixar de molho de um dia para outro uma colher se sopa de semente de linhaça e de manhã misturar com uma colher de mel e ingeri-la. Deve-se evitar laxativos.

É primordial que nesta fase a futura mãe já tenha definido quem será o médico e onde se realizará o parto. Procure escolher um médico em que você confie e que possa lhe orientar, indicando a maternidade que apoie as iniciativas do Hospital Amigo da Criança (IHAC) como por exemplo iniciar a amamentação na primeira meia hora após o parto, praticar alojamento conjunto 24 horas por dia, não dar bicos artificiais ou chupetas às crianças amamentadas, informar todas as gestantes atendidas sobre as vantagens e o manejo da amamentação. O título de Hospital Amigo da Criança, é um selo concedido pela UNICEF atribuído às maternidades que desenvolvem projetos de apoio e incentivo ao aleitamento materno.

A natureza prepara as mães assim como as mamas para o aleitamento materno. Durante a gravidez a espessura mamilar aumenta 1,5 mm e o diâmetro areolar, cerca de 15 mm em média, as glândulas sebáceas existentes na aréola desenvolvem-se para produzir mais gordura e lubrificar melhor a região. Ainda assim podemos contribuir com alguns cuidados especiais bem antes do aleitamento. Durante a gestação deve-se expor as mamas a banho de sol por 15 a 20 minutos antes das 10 da manhã, este procedimento de forma adequada e contínua aumenta a resistência da região da aréola e mamilo.

Outro recurso aceito por uns e contestado por outros, é a partir do quarto mês proporcionar pequenos atritos à região mamiloareolar através de fricções com uma toalha felpuda, uso de soutiens de amamentação abertos ou até mesmo o não uso de soutien. Os que defendem esta prática dizem que ela leva resistência da região, os que são contra, acreditam que ela remova a camada de proteção natural. Outra possibilidade pouco praticada porém bastante eficiente, é passar suco de limão sobre a região da aréola e mamilo que também a tornará mais resistente. Vale lembrar que nunca deve-se passar o limão e se expor ao sol, evitando queimaduras. Todas essas técnicas são importantes, mas só isso não basta, é necessário também verificar a flexibilidade desta região para que não haja as temíveis rachaduras na hora de amamentar.

Existem 4 tipos de mamilos:

Mamilo Protruso - corresponde a 92% das mulheres, quando estimulado fica saliente e proporciona facilmente a amamentação.
Mamilo Semiprotruso - corresponde a 7% das mulheres, fica pouco saliente quando estimulado mas permite com certa facilidade o aleitamento.
Mamilo Pseudo-invertido - corresponde a 0,5% das mulheres, quando estimulado se exterioriza muito pouco, voltando logo em seguida ao estado invertido, dificilmente possibilita a amamentação.
Mamilo Invertido - corresponde a 0,5% das mulheres, mesmo quando estimulado não se torna saliente, ficando no máximo no mesmo plano da aréola, não possibilita a amamentação.

Um mamilo é considerado mal formado quase sempre por causa de aderências na base. Alguns profissionais sugerem exercícios na tentativa de romper essas aderências, porém não se pode garantir o sucesso.

Com os dedos indicadores colocados na base do mamilo sobre a aréola, pressione e distenda a base do mamilo firmemente. Repita esses movimentos no sentido horizontal várias vezes e depois o mesmo procedimento no sentido vertical.

Num segundo exercício segure o mamilo com o polegar e indicador da mesma mão torcendo-o ora para a direita e ora para a esquerda, repita várias vezes ao dia. Os dois exercícios devem ser repetidos, mas nunca se deve sentir dor, no início um pequeno ardor é esperado.

A partir de agora a mãe está pronta para secretar amor, levar vida e gerar alegria comprovada na satisfação do bebê ao final de cada mamada.

   6 - COMO AMAMENTAR O BEBÊ

Nove meses se passaram, a relação que começou delicada, cheia de inseguranças e incertezas, já estava equilibrada e estabilizada, sofre novas mudanças com a chegada do bebê. Todos querem ver o rostinho dele, segurá-lo e participar à nova mãe suas experiências, mesmo que estas não sejam muito positivas.

Existem os instintos da mãe e do bebê, mas mesmo assim, é preciso aprendizado de ambas as partes. Surge então uma nova relação entre mãe e filho. Como todo início, necessita pequenos ajustes e algumas vezes um pouco de treino, portanto não se deve esperar muito para começar. Lembremos que o maior reflexo de sucção neural se dá na primeira meia hora de vida (iniciativa Hospital Amigo da Criança - 4).

O bebê deve receber EXCLUSIVAMENTE o leite materno até os 6 meses de idade, só então poderão ser introduzidos outros alimentos, lembrando que o aleitamento deverá continuar até os 24 meses. Esses períodos são definidos pela mãe em íntima sintonia com o bebê de maneira natural.

A mãe deve ficar atenta para que a posição do bebê seja a mais vertical possível, facilitando a deglutição do leite e posteriormente a eliminação de gases através dos arrotos. Ela deve estar sempre em posição confortável, de preferência com as costas bem apoiadas para fazer com que esses momentos sejam aproveitados ao máximo em quantidade, mas principalmente em qualidade.

No início os períodos entre as mamadas tendem a ser mais curtos e o tempo de aleitamento menor, com o passar dos dias mãe e filho se entendem e definem com certa tranquilidade as regras desse jogo de puro afeto.

A principal característica de um bom aleitamento materno é uma pega correta, ela responde por um esvaziamento completo das mamas sem que ocorra rachaduras na aréola e mamilo. O bebê deve sempre abocanhar a maior parte da aréola, para isso, encosta-se o mamilo no lábio inferior para que o bebê abra bem a boca e coloque quase toda aréola para dentro. O mamilo, durante o aleitamento, pode chegar a 3 vezes o seu tamanho normal, dentro da boca ele é pressionado (ordenhado), assim como a aréola e suas ampolas lactíferas, pela língua através de movimentos peristálticos que partem da ponta dela e se dirigem até o estômago.

Algumas mães podem estranhar o fato de com o leite materno o bebê mamar em intervalos menores e passar 4 ou 5 dias sem evacuar. Mais uma vez a natureza se mostra sábia, o leite materno é digerido facilmente, aliás até o sexto mês é o único alimento que o bebê está preparado para digerir, por isso por volta de 3 horas o bebê necessita de mais leite, muito diferente do leite de vaca, que é o melhor leite para os bezerros, que precisam ganhar peso rapidamente pois ficam expostos ao relento. O leite materno é aproveitado quase que totalmente pelo bebê, não sobrando quase nada para a formação do bolo fecal.

Quando o bebê nasce ele ainda tem muito o que desenvolver e crescer, principalmente o esqueleto facial que é muito deficiente em relação ao crânio. Todo estímulo para este crescimento se dá através da amamentação, um exercício que requer uso da mesma musculatura que estará envolvida na trituração dos alimentos por toda a vida. Se não houver a amamentação não ocorrerá o desenvolvimento adequado da boca e suas funções, fonação, mastigação e equilíbrio postural.

Ao mamar o bebê causa um vedamento labial junto à mama, permitindo que sua respiração seja exclusivamente nasal. A mãe deve cuidar para que a mama não obstrua a cavidade nasal para não interromper a mamada.

O que pode levar a essa obstrução é o fato das mamas estarem muito cheias de leite. Já dissemos que com o tempo mãe e bebê equilibram as quantidades de leite produzida e consumida, porém no início este leite pode estar em grande quantidade na mama e ocorre o ingurgitamento mamário, isto pode causar dor e também levar a fissuras.

A recomendação é que se faça a ordenha manual das mamas, pressionando-as na região das ampolas lactíferas e também na base das mamas. Não se preconiza bombinhas ou métodos que façam sucção (pressão negativa) pois podem gerar ainda mais dor e ferimentos, na ordenha manual a mãe controla a pressão até o limite em que não haja muita dor. A melhor maneira de se esvaziar completamente a mama a cada mamada é através de uma pega correta e a perfeita ordenha pelo bebê.

Outro problema que a mãe pode encontrar é a pequena produção de leite nos primeiros dias, lembrando que a produção ocorre devido ao estímulo na mama, portanto nada melhor do que dar o peito ao bebê.

A mãe pode contribuir buscando se tranquilizar e relaxar, é fundamental a participação dos familiares para que isso ocorra. A mãe deve beber muita água, também pode-se lançar mão de chás que estimulam a lactação, chá só para as mães, para os bebês somente leite materno.

As mães não devem se preocupar com regras rígidas, muito menos se culpar ou penitenciar por qualquer insucesso, todas essas informações devem ser colocadas em prática e aproveitadas de maneira natural.

   7 - BENEFÍCIOS PARA A MÃE

Quando o assunto é aleitamento materno, logo se pensa na saúde da criança, nas vantagens que esta leva sobre aquelas que não são amamentadas. A mulher que era o centro das atenções até o nascimento do bebê, muitas vezes se enche de insegurança chegando, em alguns casos, à depressão.

Acredito que o maior de todos os benefícios da amamentação é a segurança que a mãe adquire e a certeza de que durante 6 meses aquele novo ser, frágil e indefeso, não precisará de outra coisa que não seu amor, sua proteção e seu precioso leite.

Durante o aleitamento, as mães produzem a ocitocina que é o hormônio responsável pela contração dos alvéolos onde o leite é produzido, além de gerar as contrações que diminuirão o volume do útero ajudando a expulsar a placenta. Essa contração se dá também ao nível de vasos sanguíneos diminuindo o sangramento e evitando as hemorragias pós parto, uma das principais causas de mortalidade materna no Brasil.

As mães que amamentam, são protegidas contra anemia, já que estas demoram mais tempo para menstruar, evitando assim perder o seu "estoque de ferro" com o sangramento mensal.

A amamentação está relacionada coma a diminuição do risco de osteoporose na vida madura. Pesquisas mostram que mulheres que não amamentaram têm uma incidência 4 vezes maior da doença.

Dentre as mães diabéticas, que necessitam uso de insulina, constatou-se que no pós parto as que amamentam têm uma redução significante no uso de doses de insulina em relação às mães que dão mamadeira.

A amamentação estabiliza o progresso da endometriose materno. Não amamentar aumenta o risco de câncer de ovário e câncer endometrial.

Mulheres que amamentam voltam ao peso normal, de antes da gravidez, muito mais rápido devido ao grande gasto calórico durante as mamadas.

O aleitamento também reduz o risco da mulher desenvolver o câncer de mama. Pesquisas indicam que o aleitamento entre 4 e 12 meses reduz em 11% a incidência da doença, comparando às mães que amamentaram por 3 meses ou menos e que num período de 24 meses essa incidência cai 25%.

Também já existem dados mostrando que as mulheres que foram amamentadas apresentam um risco 25% menor de desenvolver a doença, que as mulheres que tomaram mamadeira.

Numa época onde a praticidade fala mais alto, a mãe se beneficia dando o peito, pois não precisa sair de casa em busca de leites especiais, mamadeiras ou chucas, aliás não precisa ir nem até a cozinha preparar o leite, ferver mamadeira, acertar temperatura ou gosto do preparo e ainda questionar se pode estar azedo ou estragado. Basta colocar o bebê junto ao peito e permitir que ele se satisfaça com o amor materno.

   8 - BENEFÍCIOS PARA A FAMÍLIA

O recém nascido passou 9 meses em segurança, crescendo e se desenvolvendo no útero materno, agora instintivamente busca o peito de sua mãe, lá procura muito além do leite. Quando em contato com sua mãe sente o mesmo ritmo que pulsou durante toda a gestação próximo à placenta que o envolvia, encontra o calor materno e recebe carinho e atenção que não podem ser transmitidos de outra forma que não seja a amamentação.

É muito importante o contato físico entre mãe e filho, as mães que se propõem a dar o peito exclusivamente até o sexto mês de vida, adquirem um conhecimento e uma afinidade incrível com o bebê e este se beneficia física e emocionalmente pois suas necessidades são sentidas e atendidas pela mãe de maneira natural.

Bebês prematuros são especialmente beneficiados com a amamentação, pois o leite produzido por suas mães é diferente daquele produzido pelas mães que tiveram tempo normal de gestação. No primeiro mês pós-parto o leite tem uma composição semelhante ao colostro, que é muito mais forte.

O leite materno contribui no controle da dor, pois possui uma substância química em sua composição que ajuda a suprimi-la, a endorfina. Uma boa sugestão é amamentar o bebê logo após a vacina ou até mesmo vaciná-lo enquanto mama.

Crianças amamentadas têm um índice bem menor de obesidade infantil, pois são saciadas pela qualidade e não quantidade de leite. Quando são alimentados com mamadeira, são usados leites e outros produtos para engrossar as refeições e engordar as crianças.

Crianças em aleitamento materno exclusivo têm menores quadros infecciosos porque o leite materno é livre das bactérias que se acumulam em mamadeiras e embalagens mau conservadas, além disso somente a mãe produz os anticorpos necessários já descritos anteriormente.

A amamentação proporciona exercícios excenciais para o perfeito desenvolvimento das arcadas dentárias e posteriormente um encaixe adequado dos dentes. Também é responsável pela tonicidade muscular correta da língua, músculos dos lábios, das bochechas e músculos da mastigação, permitindo a realização completa das funções da boca durante a vida.

As crianças que mamam têm menor risco de serem respiradores bucais e desenvolverem doenças alérgicas como asma, bronquite, sinusite, renite, etc. Têm risco 3 a 4 vezes menor de desenvolver otite média.

Pesquisas vêm sendo realizadas sobre aleitamento materno e já mostram diversas vantagens: a prevenção contra cegueira noturna em crianças de idade pré escolar, promovida pelo aleitamento materno, onde o leite apresenta-se como fonte de vitamina A; a redução do índice de doenças degenerativas como a diabetes; o aumento do quociente de inteligência (QI); e o aumento na incidência de esclerose múltipla associada a falta da amamentação.

   REFERÊNCIAS

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Autor: Dr. Alexandre Rabboni

Data da Publicação: 11/12/2006
 

 
 
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