1- INTRODUÇÃO 
    Este trabalho nasceu para trazer aos profissionais
    da saúde que trabalham com o aleitamento materno, e principalmente às mães que estão
    amamentando ou às mulheres que ainda desejam um dia amamentar seus filhos, apoio e
    incentivo nos momentos de insegurança que possam surgir durante esta caminhada do
    aleitamento materno. 
    A amamentação é um símbolo do mais puro amor,
    aquele entre mãe e filho. Artistas buscam há anos retratar esta relação onde as duas
    pessoas envolvidas são nesse instante, uma única expressão. Michelangelo, Da Vinci e
    Picasso, estão entre os grandes artistas, que através deste tema deram vida a pedra,
    argila ou tinta. 
    O aleitamento materno é o fechamento de um ciclo
    natural. Este se inicia na concepção, segue por uma gestação de 9 meses em que o feto
    fica protegido no ventre materno e termina com a chegada do bebê ao mundo, pela
    coroação que é o parto. Levado ao peito da mãe, o bebê instintivamente inicia a
    ordenha e a sua luta pela vida. 
    O ato de amamentar sempre foi passado de geração
    em geração nas mais diversas culturas de maneira natural, sem que houvesse a necessidade
    de campanhas para estimular este hábito. 
    Talvez a maior dificuldade seja que hoje em dia o
    normal está longe de ser natural, enquanto antigamente era comum ver uma mãe realizada
    em amamentar, após a Segunda Guerra Mundial, com o desenvolvimento tecnológico e a
    industrialização do leite de vaca, a imagem do bebê está associada à chupetas e
    mamadeiras.  
    Há 10 anos grupos ligados ao aleitamento vêm
    trabalhando para torná-lo novamente algo comum, e mais que isso, essencial à vida. Já
    estamos conseguindo mudar essa história e junto com este manual, contamos com a sua
    valiosa colaboração.  
       2 - A MAMA 
    Neste primeiro capítulo, teremos como objetivo
    principal, entender as partes que compõem a mama, desde o nascimento até que estas
    entrem em função, produzindo vida, amor e afeto. Não é por acaso que nos seres
    humanos, as mamas guardam entre elas o coração. 
    As glândulas mamárias, na espécie humana, podem
    ser identificadas quando o embrião conta 6 semanas de vida. Por volta do quinto mês de
    vida intra uterina, já estão bem desenvolvidos o mamilo, a aréola e o sistema de ductos
    que poderão conduzir o leite. 
    Ao nascer, as mamas do recém nascido normalmente
    encontram-se aumentadas, devido aos hormônios da lactação recebidos pela placenta.
    Estas glândulas permanecem inativas até próximo a puberdade quando, no caso das
    meninas, os mamilos e aréolas aumentam, pois seus ovários passam a derramar na corrente
    sanguínea uma quantidade cada vez maior de estrógeno. 
    Os ductos continuam se ramificando e se
    desenvolvendo, ao mesmo tempo em que vai se depositando gordura ao longo do sistema de
    ductos. Esta gordura depositada será responsável pelo tamanho das mamas, o que não irá
    interferir na quantidade de leite produzido. 
    O desenvolvimento das mamas se deve também aos
    hormônios pituitários que atuam no crescimento geral do corpo. 
    NA GRAVIDEZ 
    No primeiro trimestre da gestação as glândulas de
    Montgomery aumentam e a aréola e pele a sua volta, começam a escurecer. Estas glândulas
    começam a secretar um lubrificante antimicrobiano, que irá se manter em ação até o
    final da lactação. 
    No segundo trimestre, ao final dos ductos que vinham
    se ramificando, começam a se desenvolver os alvéolos onde será produzido o leite. Isso
    se torna possível sob a influência dos hormônios que atuavam no ciclo menstrual,
    estrógeno e progesterona (pró gestação), e que com a sabedoria e equilíbrio da
    natureza, passam a atuar pelo bom desenvolvimento das mamas, preparando-as para o
    aleitamento. Neste período, por volta do quinto mês, já existe a produção do colostro
    e se necessário do leite, no caso de um parto prematuro. 
    No terceiro trimestre as aréolas e mamilos crescem
    e escurecem ainda mais, isto pode servir como estímulo visual ao recém nascido enquanto
    procura a mama. 
    Imagino que possa ter surgido a dúvida: Se os
    alvéolos, na presença da prolactina liberada pela placenta, são capazes de produzir
    leite, por que as gestantes não amamentam ? 
    Na realidade o hormônio responsável pela descida
    do leite, a ocitocina, só é produzido pela hipófise quando há o estímulo da criança
    na ordenha da mama, mesmo que a prolactina secretada pela placenta já tenha estimulado a
    produção de leite. No momento do parto com a expulsão da placenta, a ocitocina será a
    principal responsável pela contração uterina, diminuindo as hemorragias pós parto. A
    ocitocina será responsável pela contração das células mioepiteliais que envolvem os
    alvéolos produtores do leite. 
       3 - COMO FUNCIONA A MAMA 
    A partir desse momento vamos
    esclarecer como este sistema de glândulas funciona de maneira equilibrada e harmônica
    com a vida. 
    Após o parto e eliminação da
    placenta, caem drasticamente os níveis de estrógeno e progesterona, mas ainda mantém-se
    altos os índices de prolactina que estimulam os alvéolos a produzir o leite, por esse
    motivo, o ideal é que o recém nascido imediatamente após o parto seja levado ao contato
    direto com a mãe e inicie o aleitamento. As mamas necessitam ser esvaziadas e o maior
    reflexo de sucção neural ocorre na primeira meia hora de vida. Isto justifica a busca
    pelo parto humanizado, onde grandes hospitais vêm realizando esses procedimentos no
    quarto, onde o recém nascido ficará com a mãe em alojamento conjunto possibilitando o
    aleitamento em livre demanda. 
    Dois aspectos devem ser observados
    quanto ao funcionamento da mama; a produção e a ejeção do leite. 
    PRODUÇÃO
    DO LEITE 
    Quando o bebê mama, as
    terminações nervosas presentes no mamilo geram impulsos que são levados até a
    hipófise, glândula situada no cérebro, que em sua região anterior irá produzir a
    prolactina, sendo liberada na corrente sanguínea seguirá aos alvéolos ativando suas
    células secretoras de leite. 
    EJEÇÃO DO
    LEITE 
    No mesmo momento em que a hipófise
    recebe esses impulsos, ela também produz um outro hormônio, porém na sua região
    posterior, é a ocitocina, que através da corrente sanguínea chegará às células
    mioepiteliais que envolvem os alvéolos, provocando sua contração e a descida do leite
    (apojadura) pelos ductos até as ampolas lactíferas sob a aréola.  
    Esses dois processos ocorrem por
    estímulos neuro-hormonais, ou seja, QUANTO MAIS O BEBÊ MAMA, MAIS LEITE É PRODUZIDO. 
    Em uma pega correta, a língua com
    movimentos peristálticos esvaziará as ampolas lactíferas, estimulando a produção e
    ejeção de mais leite, enquanto houver estímulo haverá leite. 
    A prolactina atua mesmo entre as
    mamadas produzindo o leite, enquanto a ocitocina atua somente durante a mamada contraindo
    os alvéolos.  
       4 - CONSTITUIÇÃO DO LEITE 
    O leite é sinônimo de vida, as
    mães quando amamentam produzem um alimento balanceado e equilibrado, próprio para seus
    filhos que necessitam deste calor. Esta vitalidade se dá somente no aleitamento materno
    pois a criança recebe este leite num contato direto com um organismo vivo, a mãe. 
    O leite é produzido através de
    substâncias presentes no corpo da mãe, mais especificamente no sangue materno. Por esse
    motivo as mães que planejam transmitir saúde, devem ingerir sempre que possível
    alimentos saudáveis por exemplo os de origem orgânica ou biodinâmica, evitando ao
    máximo pesticidas, inseticidas e outros tóxicos. 
    Outro fator que preocupa as mães
    além da qualidade do leite é a quantidade. Deve-se adotar a livre demanda, ou seja,
    sempre que o bebê manifestar vontade pelo leite. Esta regra sempre funcionou para os
    povos mais primitivos e ligados aos ritmos da natureza. Nos centros mais urbanos sabemos
    que quase não existe este ritmo no trabalho, no lazer, no sono e principalmente na
    alimentação, aí a importância de se programar e estabelecer um ritmo natural entre a
    mãe e o bebê que pode girar em torno de 8 mamadas por dia, ou de 3 em 3 horas. 
    O ritmo está ligado intimamente com
    a vida, na inspiração e na expiração do ar, na sístole e diástole do coração, no
    dia e na noite, nas plantas que perdem suas folhas no outono e exibem suas flores na
    primavera e no bebê que ordenha e esvazia a mama permitindo que essa se renove e produza
    mais e mais leite. 
    A falta de ritmo, a vida desregrada
    são sinais de desequilíbrio e por consequência doença. 
    
      
        O
        colostro que já estava produzido pela mãe é o primeiro alimento do recém nascido nas
        48 horas iniciais de vida, quando ocorre a apojadura (descida do leite). O colostro é
        muito rico em anticorpos, daí ser chamado de primeira vacina, também possui uma leve
        característica laxante que ajuda a limpar o organismo de substâncias desnecessárias,
        por exemplo o mecônio (primeiras fezes do bebê). Ele estará misturado ao leite até
        próximo do décimo dia, quando desaparece totalmente.  
        A coloração amarelada e o pequeno
        volume de colostro dão lugar ao leite branco que será produzido em quantidades maiores,
        tanto quanto forem estimuladas as mamas na ordenha.  
        As células secretoras dos
        alvéolos, retiram do sangue materno: água, partículas de proteína, glóbulos de
        gordura, lactose (açúcar), sais minerais, vitaminas e anticorpos, entre outras
        substâncias importantes para a composição do leite.   | 
          | 
       
     
    O leite materno se
    altera durante toda a amamentação, ele inicia na mamada ainda ralo e transparente e já
    no final da mesma se apresenta esbranquiçado com alto índice de gordura, assim, as
    papilas gustativas do bebê detectam a presença destes lipídios e dão sinal de
    saciedade ao cérebro do bebê. É capaz ainda de fornecer ao bebê os anticorpos
    necessários naquele determinado momento. O principal fator imunológico presente no leite
    materno é a IgA secretória que atua revestindo os intestinos do bebê, impedindo a
    aglomeração e multiplicação de bactérias e vírus. 
    O leite tem como características
    básicas:  
    
        Ser de fácil digestão e não
      sobrecarregar o intestino e os rins do bebê. Isto explica as fezes amarelas e pastosas e
      a urina clarinha e abundante, quase sem odor. 
        Proteger o bebê de muitas doenças,
      devido o seu potencial imunológico se modificando de acordo com as necessidades do bebê. 
        É prático, não precisa ferver,
      misturar, coar, dissolver ou esfriar, está sempre pronto em qualquer hora e lugar na
      temperatura ideal. 
        Apresentar de forma balanceada
      carboidratos, gorduras e proteínas, necessários a cada fase da vida do bebê. 
        Prevenir a obesidade infantil pois a
      criança é saciada pela qualidade do alimento e não pela quantidade. 
        Menor probabilidade de desenvolver
      doenças alérgicas como eczemas, bronquites e asmas. 
        Prevenir as diarréias, responsáveis por
      morte principalmente em famílias de baixa renda. 
     
       5 - PREPARAÇÃO PARA O ALEITAMENTO MATERNO 
    A partir do momento que a mulher
    descobre que está grávida tudo passa a ser novidade, ninguém é capaz de notar as
    diferenças que somente a mulher começa a sentir. É natural que nesse período apareçam
    muitas dúvidas, quanto ao sexo do bebê, semelhanças com o pai ou a mãe, tipo de parto
    e uma questão em especial que traz muita insegurança: será que vou conseguir amamentar
    meu bebê ? 
    Para todas essas dúvidas o que deve
    marcar essa fase é a tranquilidade, principalmente através de informação passada por
    profissionais da saúde capacitados em aleitamento materno e nos diversos grupos que
    apoiam, orientam e incentivam a amamentação. 
    A mulher, e futura mamãe, é a
    principal responsável por tudo o que o feto recebe. Geneticamente ele tem as
    características do pai e mãe e suas famílias, mas depende da gestante nutri-lo por 9
    meses muito além de comida, com muito amor. 
    Neste período as refeições devem
    ser feitas em menor quantidade porém mais vezes ao dia, é possível que nos primeiros
    meses ocorram enjôos matinais que podem ser evitados pela mastigação de pão integral
    seco ou comendo um pedaço de maça ao se levantar. Todo alimento deve ser triturado
    lentamente para que a saliva inicie o processo digestivo. 
    O aumento do peso na mulher grávida
    gira em torno de 1Kg ou um pouco mais ao mês, sendo que deve-se ter esses dados como
    referência e não como uma obrigação, há de se considerar as diferenças
    constitucionais de cada mulher.  
    A dieta deve conter cereais
    integrais, frutas e verduras, que estimulam o bom funcionamento do intestino, se essas
    medidas não forem suficientes, podem ser usados farelo de trigo, ameixas secas ou deixar
    de molho de um dia para outro uma colher se sopa de semente de linhaça e de manhã
    misturar com uma colher de mel e ingeri-la. Deve-se evitar laxativos. 
    É primordial que nesta fase a
    futura mãe já tenha definido quem será o médico e onde se realizará o parto. Procure
    escolher um médico em que você confie e que possa lhe orientar, indicando a maternidade
    que apoie as iniciativas do Hospital Amigo da Criança (IHAC) como por exemplo iniciar a
    amamentação na primeira meia hora após o parto, praticar alojamento conjunto 24 horas
    por dia, não dar bicos artificiais ou chupetas às crianças amamentadas, informar todas
    as gestantes atendidas sobre as vantagens e o manejo da amamentação. O título de
    Hospital Amigo da Criança, é um selo concedido pela UNICEF atribuído às maternidades
    que desenvolvem projetos de apoio e incentivo ao aleitamento materno. 
    A natureza prepara as mães assim
    como as mamas para o aleitamento materno. Durante a gravidez a espessura mamilar aumenta
    1,5 mm e o diâmetro areolar, cerca de 15 mm em média, as glândulas sebáceas existentes
    na aréola desenvolvem-se para produzir mais gordura e lubrificar melhor a região. Ainda
    assim podemos contribuir com alguns cuidados especiais bem antes do aleitamento. Durante a
    gestação deve-se expor as mamas a banho de sol por 15 a 20 minutos antes das 10 da
    manhã, este procedimento de forma adequada e contínua aumenta a resistência da região
    da aréola e mamilo. 
    Outro recurso aceito por uns e
    contestado por outros, é a partir do quarto mês proporcionar pequenos atritos à região
    mamiloareolar através de fricções com uma toalha felpuda, uso de soutiens de
    amamentação abertos ou até mesmo o não uso de soutien. Os que defendem esta prática
    dizem que ela leva resistência da região, os que são contra, acreditam que ela remova a
    camada de proteção natural. Outra possibilidade pouco praticada porém bastante
    eficiente, é passar suco de limão sobre a região da aréola e mamilo que também a
    tornará mais resistente. Vale lembrar que nunca deve-se passar o limão e se expor ao
    sol, evitando queimaduras. Todas essas técnicas são importantes, mas só isso não
    basta, é necessário também verificar a flexibilidade desta região para que não haja
    as temíveis rachaduras na hora de amamentar. 
    Existem 4
    tipos de mamilos: 
    
       
      Mamilo Protruso - corresponde a 92% das mulheres, quando estimulado fica saliente e
      proporciona facilmente a amamentação. 
       
      Mamilo Semiprotruso - corresponde a 7% das mulheres, fica pouco saliente quando estimulado
      mas permite com certa facilidade o aleitamento. 
       
      Mamilo Pseudo-invertido - corresponde a 0,5% das mulheres, quando estimulado se
      exterioriza muito pouco, voltando logo em seguida ao estado invertido, dificilmente
      possibilita a amamentação. 
       
      Mamilo Invertido - corresponde a 0,5% das mulheres, mesmo quando estimulado não se torna
      saliente, ficando no máximo no mesmo plano da aréola, não possibilita a amamentação. 
     
    Um mamilo é considerado mal formado
    quase sempre por causa de aderências na base. Alguns profissionais sugerem exercícios na
    tentativa de romper essas aderências, porém não se pode garantir o sucesso. 
    Com os dedos indicadores colocados
    na base do mamilo sobre a aréola, pressione e distenda a base do mamilo firmemente.
    Repita esses movimentos no sentido horizontal várias vezes e depois o mesmo procedimento
    no sentido vertical. 
    Num segundo exercício segure o
    mamilo com o polegar e indicador da mesma mão torcendo-o ora para a direita e ora para a
    esquerda, repita várias vezes ao dia. Os dois exercícios devem ser repetidos, mas nunca
    se deve sentir dor, no início um pequeno ardor é esperado. 
    A partir de agora a mãe está
    pronta para secretar amor, levar vida e gerar alegria comprovada na satisfação do bebê
    ao final de cada mamada. 
       6 - COMO AMAMENTAR O BEBÊ 
    Nove meses se passaram, a relação
    que começou delicada, cheia de inseguranças e incertezas, já estava equilibrada e
    estabilizada, sofre novas mudanças com a chegada do bebê. Todos querem ver o rostinho
    dele, segurá-lo e participar à nova mãe suas experiências, mesmo que estas não sejam
    muito positivas. 
    Existem os instintos da mãe e do
    bebê, mas mesmo assim, é preciso aprendizado de ambas as partes. Surge então uma nova
    relação entre mãe e filho. Como todo início, necessita pequenos ajustes e algumas
    vezes um pouco de treino, portanto não se deve esperar muito para começar. Lembremos que
    o maior reflexo de sucção neural se dá na primeira meia hora de vida (iniciativa
    Hospital Amigo da Criança - 4). 
    O bebê deve receber EXCLUSIVAMENTE
    o leite materno até os 6 meses de idade, só então poderão ser introduzidos outros
    alimentos, lembrando que o aleitamento deverá continuar até os 24 meses. Esses períodos
    são definidos pela mãe em íntima sintonia com o bebê de maneira natural. 
    A mãe deve ficar atenta para que a
    posição do bebê seja a mais vertical possível, facilitando a deglutição do leite e
    posteriormente a eliminação de gases através dos arrotos. Ela deve estar sempre em
    posição confortável, de preferência com as costas bem apoiadas para fazer com que
    esses momentos sejam aproveitados ao máximo em quantidade, mas principalmente em
    qualidade. 
    No início os períodos entre as
    mamadas tendem a ser mais curtos e o tempo de aleitamento menor, com o passar dos dias
    mãe e filho se entendem e definem com certa tranquilidade as regras desse jogo de puro
    afeto. 
    A principal característica de um
    bom aleitamento materno é uma pega correta, ela responde por um esvaziamento completo das
    mamas sem que ocorra rachaduras na aréola e mamilo. O bebê deve sempre abocanhar a maior
    parte da aréola, para isso, encosta-se o mamilo no lábio inferior para que o bebê abra
    bem a boca e coloque quase toda aréola para dentro. O mamilo, durante o aleitamento, pode
    chegar a 3 vezes o seu tamanho normal, dentro da boca ele é pressionado (ordenhado),
    assim como a aréola e suas ampolas lactíferas, pela língua através de movimentos
    peristálticos que partem da ponta dela e se dirigem até o estômago. 
    Algumas mães podem estranhar o fato
    de com o leite materno o bebê mamar em intervalos menores e passar 4 ou 5 dias sem
    evacuar. Mais uma vez a natureza se mostra sábia, o leite materno é digerido facilmente,
    aliás até o sexto mês é o único alimento que o bebê está preparado para digerir,
    por isso por volta de 3 horas o bebê necessita de mais leite, muito diferente do leite de
    vaca, que é o melhor leite para os bezerros, que precisam ganhar peso rapidamente pois
    ficam expostos ao relento. O leite materno é aproveitado quase que totalmente pelo bebê,
    não sobrando quase nada para a formação do bolo fecal. 
    Quando o bebê nasce ele ainda tem
    muito o que desenvolver e crescer, principalmente o esqueleto facial que é muito
    deficiente em relação ao crânio. Todo estímulo para este crescimento se dá através
    da amamentação, um exercício que requer uso da mesma musculatura que estará envolvida
    na trituração dos alimentos por toda a vida. Se não houver a amamentação não
    ocorrerá o desenvolvimento adequado da boca e suas funções, fonação, mastigação e
    equilíbrio postural. 
    Ao mamar o bebê causa um vedamento
    labial junto à mama, permitindo que sua respiração seja exclusivamente nasal. A mãe
    deve cuidar para que a mama não obstrua a cavidade nasal para não interromper a mamada. 
    O que pode levar a essa obstrução
    é o fato das mamas estarem muito cheias de leite. Já dissemos que com o tempo mãe e
    bebê equilibram as quantidades de leite produzida e consumida, porém no início este
    leite pode estar em grande quantidade na mama e ocorre o ingurgitamento mamário, isto
    pode causar dor e também levar a fissuras. 
    A recomendação é que se faça a
    ordenha manual das mamas, pressionando-as na região das ampolas lactíferas e também na
    base das mamas. Não se preconiza bombinhas ou métodos que façam sucção (pressão
    negativa) pois podem gerar ainda mais dor e ferimentos, na ordenha manual a mãe controla
    a pressão até o limite em que não haja muita dor. A melhor maneira de se esvaziar
    completamente a mama a cada mamada é através de uma pega correta e a perfeita ordenha
    pelo bebê. 
    Outro problema que a mãe pode
    encontrar é a pequena produção de leite nos primeiros dias, lembrando que a produção
    ocorre devido ao estímulo na mama, portanto nada melhor do que dar o peito ao bebê. 
    A mãe pode contribuir buscando se
    tranquilizar e relaxar, é fundamental a participação dos familiares para que isso
    ocorra. A mãe deve beber muita água, também pode-se lançar mão de chás que estimulam
    a lactação, chá só para as mães, para os bebês somente leite materno. 
    As mães não devem se preocupar com
    regras rígidas, muito menos se culpar ou penitenciar por qualquer insucesso, todas essas
    informações devem ser colocadas em prática e aproveitadas de maneira natural. 
       7 - BENEFÍCIOS PARA A MÃE 
    Quando o assunto é aleitamento
    materno, logo se pensa na saúde da criança, nas vantagens que esta leva sobre aquelas
    que não são amamentadas. A mulher que era o centro das atenções até o nascimento do
    bebê, muitas vezes se enche de insegurança chegando, em alguns casos, à depressão. 
    Acredito que o maior de todos os
    benefícios da amamentação é a segurança que a mãe adquire e a certeza de que durante
    6 meses aquele novo ser, frágil e indefeso, não precisará de outra coisa que não seu
    amor, sua proteção e seu precioso leite. 
    Durante o aleitamento, as mães
    produzem a ocitocina que é o hormônio responsável pela contração dos alvéolos onde o
    leite é produzido, além de gerar as contrações que diminuirão o volume do útero
    ajudando a expulsar a placenta. Essa contração se dá também ao nível de vasos
    sanguíneos diminuindo o sangramento e evitando as hemorragias pós parto, uma das
    principais causas de mortalidade materna no Brasil. 
    As mães que amamentam, são
    protegidas contra anemia, já que estas demoram mais tempo para menstruar, evitando assim
    perder o seu "estoque de ferro" com o sangramento mensal. 
    A amamentação está relacionada
    coma a diminuição do risco de osteoporose na vida madura. Pesquisas mostram que mulheres
    que não amamentaram têm uma incidência 4 vezes maior da doença. 
    Dentre as mães diabéticas, que
    necessitam uso de insulina, constatou-se que no pós parto as que amamentam têm uma
    redução significante no uso de doses de insulina em relação às mães que dão
    mamadeira. 
    A amamentação estabiliza o
    progresso da endometriose materno. Não amamentar aumenta o risco de câncer de ovário e
    câncer endometrial.  
    Mulheres que amamentam voltam ao
    peso normal, de antes da gravidez, muito mais rápido devido ao grande gasto calórico
    durante as mamadas. 
    O aleitamento também reduz o risco
    da mulher desenvolver o câncer de mama. Pesquisas indicam que o aleitamento entre 4 e 12
    meses reduz em 11% a incidência da doença, comparando às mães que amamentaram por 3
    meses ou menos e que num período de 24 meses essa incidência cai 25%. 
    Também já existem dados mostrando
    que as mulheres que foram amamentadas apresentam um risco 25% menor de desenvolver a
    doença, que as mulheres que tomaram mamadeira. 
    Numa época onde a praticidade fala
    mais alto, a mãe se beneficia dando o peito, pois não precisa sair de casa em busca de
    leites especiais, mamadeiras ou chucas, aliás não precisa ir nem até a cozinha preparar
    o leite, ferver mamadeira, acertar temperatura ou gosto do preparo e ainda questionar se
    pode estar azedo ou estragado. Basta colocar o bebê junto ao peito e permitir que ele se
    satisfaça com o amor materno. 
       8 - BENEFÍCIOS PARA A FAMÍLIA 
    O recém nascido passou 9 meses em
    segurança, crescendo e se desenvolvendo no útero materno, agora instintivamente busca o
    peito de sua mãe, lá procura muito além do leite. Quando em contato com sua mãe sente
    o mesmo ritmo que pulsou durante toda a gestação próximo à placenta que o envolvia,
    encontra o calor materno e recebe carinho e atenção que não podem ser transmitidos de
    outra forma que não seja a amamentação. 
    É muito importante o contato
    físico entre mãe e filho, as mães que se propõem a dar o peito exclusivamente até o
    sexto mês de vida, adquirem um conhecimento e uma afinidade incrível com o bebê e este
    se beneficia física e emocionalmente pois suas necessidades são sentidas e atendidas
    pela mãe de maneira natural. 
    Bebês prematuros são especialmente
    beneficiados com a amamentação, pois o leite produzido por suas mães é diferente
    daquele produzido pelas mães que tiveram tempo normal de gestação. No primeiro mês
    pós-parto o leite tem uma composição semelhante ao colostro, que é muito mais forte.  
    O leite materno contribui no
    controle da dor, pois possui uma substância química em sua composição que ajuda a
    suprimi-la, a endorfina. Uma boa sugestão é amamentar o bebê logo após a vacina ou
    até mesmo vaciná-lo enquanto mama. 
    Crianças amamentadas têm um
    índice bem menor de obesidade infantil, pois são saciadas pela qualidade e não
    quantidade de leite. Quando são alimentados com mamadeira, são usados leites e outros
    produtos para engrossar as refeições e engordar as crianças. 
    Crianças em aleitamento materno
    exclusivo têm menores quadros infecciosos porque o leite materno é livre das bactérias
    que se acumulam em mamadeiras e embalagens mau conservadas, além disso somente a mãe
    produz os anticorpos necessários já descritos anteriormente. 
    A amamentação proporciona
    exercícios excenciais para o perfeito desenvolvimento das arcadas dentárias e
    posteriormente um encaixe adequado dos dentes. Também é responsável pela tonicidade
    muscular correta da língua, músculos dos lábios, das bochechas e músculos da
    mastigação, permitindo a realização completa das funções da boca durante a vida. 
    As crianças que mamam têm menor
    risco de serem respiradores bucais e desenvolverem doenças alérgicas como asma,
    bronquite, sinusite, renite, etc. Têm risco 3 a 4 vezes menor de desenvolver otite
    média. 
    Pesquisas vêm sendo realizadas
    sobre aleitamento materno e já mostram diversas vantagens: a prevenção contra cegueira
    noturna em crianças de idade pré escolar, promovida pelo aleitamento materno, onde o
    leite apresenta-se como fonte de vitamina A; a redução do índice de doenças
    degenerativas como a diabetes; o aumento do quociente de inteligência (QI); e o aumento
    na incidência de esclerose múltipla associada a falta da amamentação. 
    
       REFERÊNCIAS 
     
    BURKHARD, G. K., "Novos caminhos de alimentação" vol. 3, S. Paulo: CLR
    Balieiro, 1984. 
     
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    Maloclusões para bebês", 18. CIOSP, 1998. 
     
    CAMPOS, M. A. B. , "Construção Social da Prática do Aleitamento Materno Através
    dos Tempos", Revista Pediatria Atual vol. 12, n.8 - Ago 1999. 
     
    Conselho de Mães Lactantes da Associação de Boston para Orientação ao Parto,
    "Amamentando seu bebê: Guia prático para a nova mãe", S. Paulo: Paulinas,
    2000. 
     
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    MITCHELL, H. S. , RYNBERGEN, H. J., ANDERSON, L. e DIBBLE, M. V., "Nutrição",
    S. Paulo, 1978. 
     
    PRYOR, K., "A arte de amamentar", S. Paulo: Summus, 1981. 
     
    VINHA, V. H. P., "O livro da amamentação", S. Paulo: CLR Balieiro, 1999. 
     
    WOESSNER, C. , LAUWERS, J. e BERNARD, B. "Amamentação hoje", S. Paulo:
    Paulinas, 1999. 
     
    WOLFF, O. , "O que comemos, afinal ?", S. Paulo: Antroposófica, 2000 
    Autor: Dr.
    Alexandre Rabboni 
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