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Estudo da subjetividade dos fumantes ajuda no combate ao tabagismo. |
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Romper barreiras entre diferentes áreas do conhecimento para pesquisar crenças e valores associados ao início do uso do tabaco pelos adolescentes, colaborando, deste modo, com a prevenção ao fumo. Esse foi o objetivo da dissertação de mestrado "Tabagismo: uma busca da subjetividade no uso da droga permitida", feita por Renata Carone Sborgia, pesquisadora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP/USP). Renata defende a necessidade de uma abordagem interdisciplinar, associando conhecimentos de saúde, psicologia, direito e educação, para a compreensão dessas crenças e valores, responsáveis por levar os jovens a fumar. "Do ponto de vista jurídico, a compreensão dos aspectos subjetivos poderá adquirir um grande valor instrumental na elaboração, aplicação e interpretação das leis relacionadas ao controle do tabagismo", defende a pesquisadora. Ela também acredita nos benefícios desse tipo de abordagem para a área educacional. Formada em Direito e Letras, Renata leciona para pessoas de várias idades. O interesse pelo tema surgiu ao observar seus alunos começando a fumar cada vez mais cedo, por motivos não muito claros. "Ainda não havia um trabalho que definisse critérios, identificasse e compreendesse as motivações que levam ao consumo do cigarro" conta. Nas entrevistas, realizadas com 65 adolescentes fumantes de um colégio particular de Ribeirão, chamou a atenção os efeitos da propaganda: "vimos que os jovens tendem a acreditar que a mídia não influencia as pessoas a fumar e que fumar não mata, mas acreditam que ver as pessoas fumando pode induzi-los a fumar". Seguindo uma proposta de seu orientador, Marco Antonio de Castro Figueiredo, professor do Departamento Psicologia da FFCLRP, Renata desenvolveu sua pesquisa em duas etapas. Na primeira, foram efetuadas entrevistas semi-estruturadas com 12 adolescentes fumantes. Nessa fase, conta Renata, "o jovem teve um período para pensar sobre o hábito de fumar em si e o uso do tabaco entre os adolescentes, seguido de um tempo para que escrevesse suas respostas no papel, antes da entrevista propriamente dita, individual e gravada em fita k7. São os procedimentos de evocação, enunciação e averiguação". As respostas encontradas nas entrevistas foram sintetizadas e classificadas, de modo que o questionário resultante tivesse 13 locuções, classificadas em cinco categorias (propaganda, auto-afirmação, efeitos biológicos, resposta social e resposta psicológica). Estes questionários foram aplicados, na segunda etapa da pesquisa, entre os 65 alunos escolhidos no colégio. Cada locução do questionário apresentava alternativas de resposta relacionadas a uma escala numérica, com a qual foi possível estabelecer como cada jovem entendia os valores e as atitudes em relação às frases apresentadas. "Os conteúdos expressos nas respostas para as locuções eram do tipo verdadeiro-falso e bom-ruim. Foram realizadas distinções entre crenças e atitudes, entre intenções e comportamentos", explica Renata. A classificação tornou possível comparar as respostas com as atitudes esperadas. Observaram-se as possíveis tendências: se as respostas apresentavam uma associação direta ou inversa com relação ao hábito de fumar. Na locução "fumar não mata", classificada na categoria propaganda, a pesquisa apontou uma associação direta das respostas dos entrevistados, mostrando uma propensão ao tabagismo por parte deles ao concordarem com a locução. Utilizações do método Com o método aplicado em sua dissertação, Renata, acredita que seja possível realizar outras pesquisas que ajudem na elaboração, aplicação e interpretação das Leis, além da compreensão de valores subjetivos que levam a atitudes ou hábitos que precisam ser melhor esclarecidos em diferentes áreas de atuação. Poderão ser realizadas pesquisas para entender, por exemplo, quais são as crenças e valores dos pacientes com tuberculose que abandonam o tratamento, mesmo conhecendo os benefícios da medicação. Assim como foi realizada a pesquisa sobre o tabaco, reconhecidamente prejudicial, mas ainda bastante usado por adolescentes, a pesquisa permite aplicar o método em outras situações como, por exemplo, no consumo de drogas ilícitas. Texto: Leonardo Zanon |
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Data da Publicação: 28/02/2008 | |||
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