Personal Trainer - Ponto de Vista
Conduta profissional

 

Autor:
Luiz Carlos Chiesa -  CREF 1- 000069 G/ES
Autor dos livros:
Musculação: uma proposta de trabalho e desenvolvimento humano
Musculação: Aplicações práticas - Técnicas de uso das formas e métodos de treinamento

Há algum tempo venho observando a atuação de profissionais envolvidos com o trabalho de personal training, assim como tenho recebido uma enxurrada de questionamentos e reclamações a respeito dos treinamentos aplicados, por parte de alunos dentro dessa nova e importante forma de prestação de serviços.

As reclamações mais constantes são em relação ao controle sobre os treinamentos, que são praticamente inexistentes. Acontecem modificações das seqüências de exercícios sem um critério lógico ou científico. O treinamento é tão desorganizado, quando existente, que o cidadão leigo chega a perceber tamanha desordem e confusão. Comumente não há uma ficha para catálogo e acompanhamento dos treinos, a variação de exercícios e cargas são freqüentes, não há um planejamento prévio para alcance dos objetivos etc.

Sabemos que um treinamento deve durar um período mínimo de pelo menos 4 semanas, salvo casos especiais, para que os efeitos sobre as respostas do organismo comecem a aparecer. Acredito que a visão em estimular freneticamente os alunos para que eles não desistam da atividade, está criando a atitude de modificação constante e ilógica dos treinamentos.

Na ânsia em manter o cliente, as atitudes de desespero como no caso de estímulo ao consumo de drogas anabolizantes e estimulantes dentre outras poderá surgir. Única e exclusivamente por falta de conhecimentos para a aplicação dos treinos, deparamos com atitudes impensadas, desnecessárias e de grande risco para a saúde do cliente.

Na tentativa em transformar a qualquer preço todos em atletas, ou criar corpos esculturais, ultrapassa-se com freqüência os limites impostos pelas características individuais genéticas. Impõe-se com a presente atitude, uma supremacia das características irracionais humanas, sobre o processo de evolução gradual do homem, firmado pela natureza.

Como conseqüência do fato de não haver uma conduta séria de controle na aplicação dos conceitos teóricos científicos dos princípios da Educação Física e dos Desportos, a resultante negativa sobre o rendimento torna-se visível por meio da presença freqüente de lesões por esforço exagerado. A inabilidade ou desconhecimento em cruzar treinamentos de forma racional, a falta de modificações em tempo hábil dos percentuais de cargas, o descontrole que gera a manutenção de uma única forma de aplicação de treinos, não potencializa o rendimento máximo individual e seguro.

Muitos profissionais preocupam-se em treinar junto ou acompanhar os clientes nas caminhadas e nas corridas, ao passo que a tarefa de competência do personal, é a de propiciar por meio do conhecimento científico adquirido ao longo dos anos de estudos, a prescrição de exercícios físicos. Estes serão capazes de potencializar com segurança e eficiência, as qualidades biomotoras necessárias ao alto rendimento, no caso dos atletas, e a melhoria dos níveis de saúde do cidadão comum, com modificações inclusive sobre o perfil estético. Facilmente podemos encontrar o personal training forrando com toalhas os equipamentos, ajudando na realização das repetições do exercício, montando e desmontando os pesos para os alunos realizarem seus treinos.

A presente atitude do personal, que certamente esta sendo confundida como atenção e boa vontade, esta também tornando-o ou transformando-o em um trabalhador braçal, ao passo que a função de profissionais da educação física envolvidos nas tarefas de treinamentos é a de planejar, orientar, avaliar, prescrever, aplicar etc. ou seja atividade cunho intelectual.

Nos últimos anos estamos tentando retornar com o homem cinético, com o homem ativo, e justamente na hora do trabalho físico há atitudes para poupá-lo do esforço, esta atitude é no mínimo de paradoxa, ou mesmo uma tremenda hipocrisia.

A atitude de ajuda na montagem dos equipamentos para o treinamento, deve ser compartilhada entre personal e praticante, e não deverá ser tarefa centralizada no personal, exceto nos casos de incapacidade do aluno. Outro problema que pode surgir como reflexo da falta ética, de alguns poucos profissionais, são os casos de envolvimento interpessoal de caráter extra atividade, entre o personal training e o cliente.

As relações interpessoais alheias aos treinamentos, colocam em risco a conduta de profissionais sérios e competentes, e criam um patamar de desconfiança da população, sobre esta forma de prestação de serviços de profissionais da Educação Física. O trabalho personalizado é fundamental para o desenvolvimento pleno dos objetivos e necessidades individuais.

Mesmo em academias deve-se personalizar ao máximo os treinamentos, criando-se inclusive turmas homogêneas, ou aplicando-se um método para controle mais apurado e individualizado no grupo, para este fim utiliza-se fichas para acompanhamentos das evoluções/involuções pessoais.

Antes de contratar serviços profissionais para a realização de atividades relacionadas aos exercícios físicos, exija a apresentação de documento por parte dos professores, para que comprove a competência e direito para ministrar aulas. Procure sempre informação nos órgãos responsáveis pelos atos de intervenção dos profissionais nas atividades relacionadas à Educação Física como o Conselho Regional de Educação Física e ou Conselho Federal de Educação Física, www.confef.org.br .

Há um fenômeno de característica bastante irresponsável e preocupante na atualidade, como a atuação de pessoas não capacitadas para aplicar e conduzir os exercícios físicos. Encontramos com freqüência acadêmicos dos períodos iniciais do curso de Educação Física e também praticantes leigos, atuando no campo do personal training.

A presença de acadêmicos acompanhando as aulas e os exercícios só é permitida, sob restrito controle e de responsabilidade de um profissional capacitado e credenciado no sistema CREF/CONFEF. O risco de aplicação de treinamento incorreto ou lesivo é inerente à falta de conhecimentos formais científicos, relacionados ao comportamento do corpo humano quando submetido a estresse físico.

A graduação em curso superior para formação de profissionais da Educação Física é de 4 anos, em alguns casos há um volume superior a quarenta matérias acumuladas no curriculum. Os conhecimentos adquiridos variam desde a anatomia humana, biomecânica, fisiologia, biologia, sociologia, psicologia, recreação e lazer, treinamento desportivo dentre outros. Quando constatada a situação de imperícia, imprudência ou negligência por parte do profissional, que provocar lesões à integridade física ou à saúde dos educandos, poderá incorrer em processo judicial por crime culposo ou omissivo em acordo com o código penal vigente.

Cabendo indenização, restituição e multa, assim como detenção, reclusão, prisão simples e medidas de segurança. Veja in Oliveira, R. C. Personal training - uma abordagem metodológica. São Paulo: Editora Atheneu, 1999. É pouco provável que algum praticante leigo acumule conhecimentos tão amplos, quanto aqueles transferidos por meio de sistemático processo de ensino e educação universitários. Devemos deixar sempre bem claro, que quem faz ou executa o treino, é o praticante. Quem ensina a fazer corretamente, é o profissional da Educação Física.

Data da Publicação: 30/04/2004
 

 
 
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