Aborto de Repetição
Aborto é definido como a perda gestacional
antes de 20 semanas de gravidez ou peso fetal menor que 500 gramas. Aproximadamente 15% de
todas as gestações diagnosticadas irão evoluir para aborto espontâneo entre 4 e 20
semanas. Aborto de repetição é definido como sendo a mulher que apresenta três ou mais
perdas gestacionais antes de 20 semanas ou feto pesando menos de 500 gramas. Pode ser
classificado em primário (mulheres que nunca pariram) ou secundário (mulheres que já
tenham parido).
A incidência de casais que apresentam abortos de repetição varia entre 2 a 5 % dos
casais em idade reprodutiva. Entre as causas descritas para etiologia do Aborto de
Repetição podemos dividi-las em: 1) Causas genéticas, 2) Causas Endócrinas, 3) Causas
Anatômicas, 4) Causas infecciosas, 5) Causas Hematológicas (trombofilias), 6) Causas
Imunológicas, 7) Causas Ambientais e 8) Causas Desconhecidas.
1) CAUSAS GENÉTICAS
Identificada em torno de 3 a 6% dos casos. A anormalidade mais freqüente é a
translocação balanceada observada no cariótipo de um dos parceiros. Outras
anormalidades cromossômicas que podem ser encontradas são: mosaicismo sexual, inversão
cromossômica e cromossomos em anel. Essas aberrações cromossômicas irão gerar
embriões com cromossomopatias, evoluindo para aborto.
2) CAUSAS ENDÓCRINAS
Respondem por aproximadamente 5% das causas de aborto de repetição. Dentre elas a mais
relatada é a Insuficiência de Corpo Lúteo, caracterizada por uma produção diminuída
de progesterona na segunda fase do ciclo, período de implantação, onde tal hormônio
tem participação fundamental. A suplementação de progesterona, como tratamento, na
segunda fase do ciclo é bastante discutida.
Diabete Melito se mostra envolvido na etiologia do Aborto de Repetição desde que esteja
descontrolado. Patologias da tireóide (hiper e hipotireoidismo) quando bem controlados
não se relacionam com aborto de repetição, porém é sabido que anticorpos
antitireoidianos estão intimamente relacionados com aborto de repetição, o mecanismo ao
certo não é conhecido. Pacientes com história de SOP apresentam uma incidência elevada
de aborto espontâneo, até 44%. Veja o tópico.
3) CAUSAS ANATÔMICAS
Responsáveis por aproximadamente 1% dos casos, algumas estatísticas mostram 10%. As mais
descritas são: malformações uterinas (mullerianas ou exposição DES), pólipos
uterinos, sinéquias, miomatose uterina, incompetências istmo cervical. Algumas
alterações anatômicas são mais relacionadas com perdas gestacionais tardias (durante o
segundo trimestre) ou trabalho de parto prematuro, como por exemplo: incompetência
istmo-cervical, miomatose uterina.
4) CAUSAS INFECCIOSAS
Atualmente é bastante questionável a relação entre infecções genitais por clamídia,
micoplasma e ureaplasma e a elevada incidência de aborto de repetição. Podem afetar a
imunologia uterina, ativando as células NK.
5) CAUSAS HEMATOLÓGICAS
Nos últimos anos, tem-se descrito uma relação entre distúrbios da coagulação,
tendência a tromboembolismos (trombofilias), com maus resultados gestacionais, entre eles
abortos de repetição e infertilidade. Entre as trombofilias descritas como tendo
relação com abortos de repetição podemos destacar trombofilias hereditárias (vide
trombofilias) e adquiridas (vide Síndrome Antifosfolípide).
6) CAUSAS IMUNOLÓGICAS
Responsáveis por até 66% das causas de abortos de repetição, dependendo das
estatísticas. Podem ser divididas em causas auto-imunes, alo-imunes e síndrome
antifosfolípide.
7) CAUSAS AMBIENTAIS
É descrita uma maior incidência de abortos espontâneos em pessoas com hábito de
ingestão excessiva de café, álcool e tabagismo. É sabido o efeito abortivo da
radiação, não determinada dose especifica. Gases anestésicos também parecem elevar o
risco de aborto. Exercício físico parece não estar relacionado como causa de aborto
precoce. Microondas, ultra-som e terminais de vídeo parecem não elevar a taxa de aborto.
8) CAUSAS DESCONHECIDAS
Vale lembrar que ainda em torno de 20 a 40% dos casos de aborto de repetição não é
possível se determinar uma causa precisa, um campo vasto para novas pesquisas.
Autor: Dr. Marcelo Cavalvante
Ginecologia-Obstetrícia
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