Fisiologia do Exercício - Ponto de vista Menstruação e Desempenho Físico
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Elke Oliveira
Graduada em Educação Física pela Universidade de Brasília.
Pós-graduada em Musculação e Treinamento de Força pela Gama Filho e em
Fisiologia do Exercício pela Veiga de Almeida.
Membro do Gease
Coordenadora Academia Malhart
Personal trainer
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A menstruação sempre foi um
tabu para a ciência do esporte, treinadores e atletas. Há poucas décadas, era
preocupante o fato da mulher participar de competições ou treinar menstruada.
Somente a partir de 1950, com a melhora na qualidade dos produtos de higiene
femininos (absorventes), esse quadro mudou. Embora existam muitas pesquisas
relatando como o exercício afeta a menstruação, são menos conhecidos os que
analisam como a menstruação e as outras fases do ciclo menstrual interferem na
performance e quais as alterações que podem comprometer o potencial físico e
psicológico, não esquecendo que elas são altamente individuais. Durante o ciclo
menstrual ocorrem mudanças hormonais, a menos que a mulher esteja em
contracepção, e isso tem efeitos definidos no desempenho físico (JUDY DALY E
WENDY EY 1996).
O ciclo menstrual é dividido em
fases. Segundo BÕCKLER (apud Weineck, 2000) um ciclo de 28 dias é dividido da
seguinte maneira: Fase da menstruação ou fluxo (1º ao 4º dia). Fase
pós-menstrual (5º ao 11ºdia). Fase intermenstrual (12º ao 22º dia). Fase
pré-menstrual (23º ao 28º dia). Ele afirma que a performance pode variar de
acordo com as fases do ciclo menstrual. Na Fase Pré-Menstrual, devido à
influência de um aumento nos níveis de progesterona, o desempenho pode sofrer
uma redução. Já na Fase Pós-Menstrual, graças à crescente taxa de estrogênio e
maior secreção de noradrenalina, observa-se uma melhora significativa na
performance.
No período pré-menstrual há
redução na capacidade de concentração e fadiga muscular e nervosa mais rápida (KEUL
et al 1974). Assim como acontece com as fundistas o rendimento no treinamento de
força é diferente nas diversas fases do ciclo menstrual. Na fase estrogênica
(pós-menstrual) o rendimento é melhor que na progestogênica (pré-menstrual) na
qual, as atletas ficam irritadas e menos pacientes com os treinos (LEBRUN,
1995).
Em 1997 a Federação
Internacional de Handebol registrou mais de 2,2 milhões de atletas do sexo
feminino em mais de 100 paises. Em contraste com esse número, existe pouca
literatura sobre os aspectos anatômicos, psicológicos e principalmente hormonais
que afetam o desempenho das praticantes dessa modalidade. Esse fato chamou a
atenção do Dr PETRA PLATEN membro do Institute Of Cardiologiy And Sport Medicine,
da German Sport Universite. Ele fez um estudo analisando o desempenho no treino,
através de testes específicos, nas diferentes fases do ciclo menstrual. Os
resultados preliminares desse estudo indicaram que as atletas têm uma adaptação
mais alta de força e resistência na fase pós-menstrual.
LEBRUM (1993), publicou uma
revisão da literatura analisando os efeitos das fases do ciclo menstrual no
desempenho atlético. A maioria dos achados relatou uma melhora na performance na
fase pós-menstrual, com o inverso acontecendo na fase pré-menstrual. Porém
verificou-se uma inconsistência nas pesquisas principalmente nas metodologias
empregadas e na falta de concretização na determinação das diferentes fases do
ciclo menstrual. Uma das pesquisas consistia numa entrevista com atletas, no
qual 37 a 67% relataram que não percebiam nenhuma mudança significativa na
performance em quaisquer fases do ciclo menstrual.
Um estudo interessante
publicado por JANSE et al (2001) analisou se havia mudanças nas características
contráteis do músculo esquelético, medidas através de eletromiografia, durante
as fases pré e pós-menstrual. De acordo com os resultados, não foram encontradas
diferenças significativas em nenhuma função do músculo esquelético nas
diferentes fases do ciclo.
DIBRIZZO et al (1991) mediram a
força isocinética em mulheres que menstruam normalmente, nas diferentes fases do
ciclo menstrual. Os resultados demonstraram que não houve diferença
significativa nos níveis de força em nenhuma das situações analisadas.
Registros de medalhas de ouro e
recordes olímpicos afirmam que estas conquistas ocorreram em todas as fases do
ciclo menstrual, porém não se deve esperar que o desempenho seja sempre o mesmo,
pois fatores hormonais e mesmo psicológicos afetam a performance.
Os principais prejuízos ocorrem
na fase pré-menstrual (LEBRUN, 1993; DALY e EY, 1993; KEUL 1974). Muitos
treinadores, na hora de montar o planejamento, levam em consideração as
flutuações hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual e tentam adaptar o
treinamento a essas mudanças. ZAKHAROV e GOMES (1992) descrevem a utilização de
um mesociclo de treinamento, para atletas de esportes cíclicos, que leva em
conta as variações hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual (tabela1).
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DURAÇÃO
DO CICLO |
Etapa do ciclo
|
21-22 |
24-26 |
27-28 |
29-30 |
32-36 |
Carga |
Menstrual |
1-4 |
1-4 |
1-5 |
1-5 |
1-5 |
Média |
Pós-menstrual
|
5-9 |
5-11 |
6-12 |
6-13 |
6-16 |
Alta |
Ovulatório |
10-12 |
12-14 |
13-15 |
14-16 |
17-19 |
Média |
Pós-ovulatório
|
13-18 |
15-22 |
16-24 |
17-26 |
20-31 |
Alta |
Pré-menstrual
|
19-22 |
23-26 |
25-28 |
27-30 |
32-36 |
Baixa |
Conclusão:
A maioria dos estudos relata
uma melhor performance na fase pós-menstrual, e uma redução acontecendo na fase
pré-menstrual, não esquecendo que as funções fisiológicas e a especialização
desportiva são altamente individuais. Os treinadores que conhecem e aceitam essa
hipótese, planejam os treinos respeitando as mudanças que ocorrem durante o
ciclo menstrual. A literatura relata abordagens que enfocam a dificuldade na
estruturação da preparação física desportiva da mulher. Porém, várias pesquisas
já fundamentadas, podem ajudar a planejar treinos de forma a controlar inúmeras
variáveis, levando em consideração as flutuações hormonais, tais como: volume,
intensidade, grau de dificuldade, tipo de combustível, estresse neural/
psicológico / metabólico, entre outras. A determinação das mudanças e em que
fase do ciclo isso acontece, são de grande valia para a classe desportiva, no
qual os treinadores adaptariam os treinos de forma a minimizar os prejuízos e
maximizar os ganhos durante o planejamento. Podendo até agendar as competições
para que coincidam com o período de melhor performance.
O principal problema, no caso
da preparação física das mulheres, é que a maior parte do planejamento é feita
idêntica a dos homens. Muitos técnicos não consideram as mudanças que ocorrem
durante o ciclo menstrual. Talvez porque as competições ocorram durante todas as
fases do ciclo. Porém, tal justificativa não é mais aceita diante das exigências
da preparação física atual das grandes atletas, no qual seus treinadores propõem
uma periodização totalmente adaptada, levando em conta de forma integral todas
as variáveis que influenciam na performance, incluindo claro: O ciclo menstrual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
1.DIBRIZZO, R., FORT, I.L., T.I. Relationships
among strength, endurance, weight and body fat during three stages of the
menstrual cycle. J Sport Med Phys Fitness. 1991 Mar; 31(1):89-94.
2.JUDY, D. WENDY, E. Hormones and female
athletic performance. Women's Sport Foundation of Western Australia, Inc., Oct.
1996.
3.JANSE, X.A., BOOT, C.R., THOM, J.M., RUELL,
P.A., THOMPSOM, M.W. The influence of menstrual cycle phase on skeletal muscle
contractile characteristics in humans. J Physiol. 2000 Jan; 530(Pt 1): 161-6.
4.KEUL, J.; et al .: Heart rate and
energy-vielding substrat in blood during long-lasting running. Eur J appl
Phisiol. (1974), 279f.
5.LEBRUN, C.M. Effect of the different phases
of the menstrual cycle and oral contraceptives on athletic performance. Sports
Med. Mar 1993; 16(6):400.
6.LEBRUN, C.M., MCKENZIE, D.C., PRIOR, J.C.,
TAUNTON, J.E. Effects of menstrual cycle phase on athletic performance. Med.
Sic. Sports Exerc. Mar 1995; 27(3): 437-44.
7.PLATEN, P. Interaction Between The Menstrual
Cycle And The Training. Institute Of Cardiology And Sport Medicine, University
Of Sport German ,2001.
8.WEINECK, J.: Biologia do Esporte. Ed. Manole,
São Paulo, 2000
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