Transplante de fígado não acaba com depressão do paciente com doença hepática.
Estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) comparou a qualidade de vida de pacientes com problemas hepáticos transplantados e de outros ainda na fila de espera pelo órgão. A pesquisa mostra que, enquanto a capacidade física dos que passaram pelo procedimento cirúrgico melhora, a condição psicossocial algumas vezes até se agrava após o transplante.
Uma constatação que indica a necessidade de garantir acompanhamento psicológico aos pacientes e seus familiares, antes e depois da cirurgia.
A psicóloga Rosana Trindade Santos Rodrigues, analisou 30 pacientes (15 transplantados e 15 na fila de espera) de ambos os sexos, com idades entre 15 e 63 anos, para observar o impacto do transplante de fígado sobre a qualidade de vida dessas pessoas, todos participantes do programa de transplantes da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
O estudo, apresentado como tese de mestrado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), confirmou melhora no estado físico, como o fim das dores freqüentes, das queixas de cansaço e dos sangramentos, aspectos comuns antes do transplante. Os pacientes deixam de apresentar problemas como impotência, perdem a chamada "barriga dágua" - causada pelo acúmulo de líquido abdominal - e não têm mais a coloração amarelada na pele, melhorando de forma significativa sua qualidade de vida.
Entretanto, apesar destes ganhos físicos, os transplantados não mostraram a mesma evolução no campo psicológico. Problemas como depressão e exclusão de atividades profissionais e sociais continuaram afetando a qualidade de vida dos pacientes. "Mesmo depois do transplante, é possível observar que só uma pequena porcentagem de pessoas volta ao mercado de trabalho e retoma os hábitos antigos da vida social", explica Rosana.
A psicóloga acredita que isto ocorra porque, ao fim do processo, estes pacientes sentem que não voltaram a ter uma vida normal e têm a sensação de que apenas "trocaram" de doença. "Depois da cirurgia, a pessoa deixa de ser hepatopata crônica para ser ransplantada e isto pode estar na raiz da depressão pós-cirurgia".
Em outras palavras, após o período de euforia por ter conseguido realizar a cirurgia, a necessidade de continuar tomando remédios (imunossupressores) e permanecer freqüentando hospitais pode contribuir para sentimentos de dependência e fragilidade, afetando seu estado psicológico.
Apoio antes e depois
No Brasil, a espera pelo transplante de fígado dura de dois a três anos. Neste tempo, os pacientes precisam freqüentar constantemente os hospitais para fazer exames e as desgastantes diálises. Segundo a autora da pesquisa, geralmente os pacientes se aposentam enquanto esperam o órgão, já que dificilmente conseguem estabelecer um vínculo profissional. "A necessidade quase que diária de visitar o hospital impede que o paciente consiga trabalhar", afirma.
A principal conclusão do trabalho é a necessidade da intensificação de programas psicossociais e de acompanhamento psicológico nos serviços de transplante hepático. Devem ser estruturadas formas de atendimento independentes dos serviços hospitalares, para facilitar o retorno do paciente ao trabalho, fator de extrema importância para a qualidade de vida.
O transplante no Brasil
No último dia 24 de maio, o Ministério da Saúde divulgou que o número de transplantes públicos em 2004 foi recorde. Só no ano passado, foram 10.920 procedimentos cirúrgicos nesta área, o que significou aumento de mais de 36% em relação a 2002. O transplante que mais cresceu foi o de córnea, com aumento de 52,6%. A cidade de São Paulo é a que mais realiza estas cirurgias, registrando mais de 4.600 procedimentos no ano passado.
O transplante de fígado também apresentou crescimento, tanto no sistema público como no privado. Em 2004, o Sistema Único de Saúde realizou 825 intervenções cirúrgicas e, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, o número total foi de 928, representando um aumento de quase 20% em relação a 2003. A porcentagem de sobreviventes no primeiro ano após o transplante é de 70% a 80%.
Fonte: Assessoria de Imprensa da Unifesp
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