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Bebês e Gravidez - Ponto de Vista
Gestante e atividade física

Autora - Professora Elke Oliveira


Graduada em Educação Física pela Universidade de Brasília.
Pós-graduada em Musculação e Treinamento de Força pela Gama Filho e em Fisiologia do Exercício pela Veiga de Almeida.
Membro do Gease
Coordenadora Academia Malhart
Personal trainer

Vários estudiosos relatam a escassez de trabalhos sobre a eficiência e a segurança da atividade física / esportiva para gestantes, principalmente sobre o bem estar fetal e a circulação uteroplacentária. Em parte, isso se deve à grande dificuldade de registrar com precisão os traçados cardiotocográficos durante o exercício 4, fazendo com que a maioria dos estudos seja realizada durante a recuperação (após o exercício).

O conhecimento do estado de saúde da gestante é muito importante para que um programa de exercícios seja iniciado. Por exemplo, existem alguns casos em que a atividade física pode ter uma contra-indicação absoluta, como para as portadoras de diabetes tipo I, em casos de históricos de dois ou mais abortos espontâneos, gravidez múltipla, tabagismo e ingestão excessiva de álcool. As contra-indicações relativas incluem a anemia, histórico de trabalho de parto prematuro, obesidade, diabetes tipo II e condicionamento físico muito abaixo do recomendável (antes da gravidez - sedentarismo) 12. No caso de gestantes saudáveis, há estudos que apóiam a atividade física (leve a moderada) 3, entretanto algumas precauções devem ser tomadas, entre elas: a obtenção de autorização médica e conhecimento das alterações potencialmente perigosas que podem surgir durante o exercício.

Principais diferenças metabólicas e cardiovasculares entre mulher grávida e a não grávida (10):

Débito cardíaco maior em repouso e durante o exercício submáximo nos dois primeiros trimestres. No terceiro trimestre, o débito cardíaco apresenta valores mais baixos e há aumento da possibilidade de hipotensão;

Captação de O2 discretamente maior em repouso e durante o exercício submáximo;

Consumo de O2 no exercício, com suporte de peso, acentuadamente aumentado;

Freqüência cardíaca maior no repouso e no exercício submáximo;

Volume sanguíneo aumentado de 40 a 50%.

Principais efeitos agudos do exercício na gestante (12) (2):

Redução do fluxo sanguíneo para o útero (o sangue é desviado para os músculos ativos), podendo levar à hipóxia fetal (insuficiência de oxigênio). Tal redução está diretamente relacionada à intensidade e duração do exercício;

Hipertermia fetal, a qual consiste em elevação acentuada da temperatura interna da gestante, que geralmente ocorre em exercícios aeróbicos prolongados, ou atividades físicas sob condições de estresse e calor 1;

Redução da disponibilidade de carboidratos para o feto, pois o metabolismo materno passa a utilizar maior quantidade deste substrato, contudo esta afirmação ainda necessita de maior comprovação;

Possibilidade de abortamento durante o primeiro trimestre;

Risco de indução ao trabalho prematuro de parto.

Recomendações quanto à prática de atividades físicas para gestantes sem fatores de risco adicionais (13):

Evitar permanecer muito tempo em pé (imóvel), devido à possibilidade de dores nas costas advindas do esforço excessivo nas fáscias musculares 9;

Qualquer exercício com risco de trauma na região abdominal deve ser evitado;

Mulheres que se exercitam durante a gravidez devem ter atenção especial com a dieta 1;

Evitar exercícios vigorosos, pois o débito cardíaco remanescente, neste caso, será preferivelmente distribuído longe dos leitos esplâncnicos (incluindo o útero) 13;

Durante exercícios aeróbios, deve-se observar os sintomas maternos para adequar a intensidade da atividade 13;

Interromper o exercício quando estiverem fadigadas e, principalmente, não se exercitarem até exaustão 1;

A prática de exercício deve ser regular (mínimo recomendado: 3x por semana) e a intensidade, de leve a moderada (preferivelmente intermitente) 1;

Exercícios sem suporte do peso corporal são mais indicados (ciclismo, natação, hidroginástica), devido ao menor impacto e reduzido risco de lesão 13;

Intervalos de repouso durante as atividades podem ser úteis para evitar a hipóxia fetal ou estresse térmico sobre o feto 1;

Evitar exercícios na posição supinada, devido ao comprometimento do débito cardíaco 1;

Manter a hidratação para evitar o aumento acentuado da temperatura corporal. (aumentos normais de temperatura induzidos pelos exercícios acarretam pouco risco ao feto) 10;

Atividades físicas ao final da gestação podem ampliar a resposta hipoglicemica maternal normal, aumentando a captação da glicose por parte do músculo esquelético materno. Em condições extremas, esta resposta poderia afetar negativamente o feto 10;

Evitar exercícios em ambientes quentes e/ou úmidos 12;

É importante usar roupas e calçados adequados 13;

As alterações morfológicas devem ser observadas com a finalidade de adequar os exercícios, evitando prejuízos para o bem-estar materno e fetal 13;

Apesar da freqüência cardíaca e do VO2 servirem como parâmetro de intensidade, há indícios de que a percepção subjetiva do esforço seja mais eficiente 2;

Deve-se prevenir o ganho excessivo de peso 13;

Incluir no treinamento exercícios para os músculos da pelve, abdome e diafragma, pois estas musculaturas fortalecidas podem facilitar o trabalho de parto vaginal 7.

Modificações Gravídicas (7):

A gravidez traz algumas mudanças indesejáveis ao organismo da mulher, que acabam atingindo, de certa forma, seu estado de humor. Além de ficarem mais pesadas, com a coordenação debilitada e menos ágeis que o normal, a auto-estima fica mais baixa. Neste sentido, a atividade física pode ajudar na formação de uma imagem corporal positiva, com o objetivo de proporcionar melhoras na auto-estima e na qualidade de vida, principalmente para as mulheres que já faziam parte de um programa de exercícios.

Modificações básicas durante a gestação (7):

    Aumento uterino em até 1000 vezes (seu peso pode chegar a 6kg);

    Com o crescimento uterino, há relaxamento dos ligamentos intercostais e a ascensão do
    diafragma, levando à expansão da caixa torácica;

    Hiper-relaxamento ligamentar;

    Instabilidade das articulações dos joelhos e dos tornozelos;

    Maior mobilidade da coluna e do quadril;

    Projeção do corpo à frente, com a distensão dos músculos abdominais devido ao aumento do
    volume uterino;

    Diminuição do comprimento do passo;

    Para manter o equilíbrio, a gestante aumenta a base de sustentação através do afastando dos
    pés. Esta posição acentua a lordose lombar, a qual é compensada pelo aumento na cifose torácica
    acompanhada da rotação dos ombros e projeção da cabeça à frente 11.

Conclusão:

O número de mulheres grávidas que participam de atividades físicas tem aumentado a cada ano, com isso fica cada vez mais importante estabelecer orientações básicas e prudentes acerca do exercício durante a gestação. A falta de literatura sobre o impacto do exercício no feto tem preocupado médicos e profissionais de Educação Física, principalmente no tocante ao comprometimento do suprimento sanguíneo placentário.

Não podemos desconsiderar que a atividade física regular pode representar um papel importante na manutenção da capacidade funcional, do peso corporal e do bem-estar geral da gestante.

A atividade física de intensidade leve a moderada é considerada segura e eficiente para grávidas saudáveis, todavia há inúmeras recomendações quanto à sua prática. Mulheres fisicamente ativas durante a gravidez têm mais facilidade de aprimorar sua condição física após o parto. E bem verdade que, existem vários relatos de atletas que foram campeãs logo após o nascimento dos seus filhos. Outro fator interessante é a crescente comprovação de que os exercícios podem ajudar no trabalho de parto e, se todos os cuidados necessários forem tomados, a gestante poderá desfrutar de todos os benefícios do exercício.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

1.AMERICAN COLLAGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS. 1994. Exercise during pregnancy and the postpartum period. Technical Bulletin. 189.

2.AMERICAN COLLAGE OF SPORTS MEDICINE. 1995. Guidelines for exercise testing and precision. 5th ed. Baltimore: Williams and Wilkings.

3.AVERY ND, STOCKING KD, TRANMER JE, DAVIES GA, WOLFE LA. 1999. Fetal responses to maternal strength conditioning exercises in late gestation. J Appl Physiol 24(4):362-76.

4.BROSO P; BUFFETTI G.1993. Sport e gravidanza. Minerva Ginecológica. 45:191-7.

5.FOSS ML & KETEYIAN SJ. 1988. Bases fisiologicas do exercício e do esporte. Ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro.

6.GHORAYEB N & BARROS NETO, TL.1999. O exercício. Ed Atheneu. São Paulo.(10).

7.LOPES CMC; ANDRADE J; ALMEIDA MA. 1999. Atleta Gestante. em: O exercício (editado por GHORAYEB N & BARROS NETO TL). Ed Atheneu. São Paulo.

8.POWERS, SK & HOWLEY ET. 2000. Fisiologia do exercício. Ed Manole. São Paulo.

9.ROMEN Y, MASAKI DI; MITTELMARK RA. 1991. Physiological and endocrine adjustment to pregnancy. In exercise . 2a ed, Williams and Wilkings, Baltimore, p 9-29.

10.WOLFE LA; BRENNER IKM and MOTTOLa. 1994. Maternal Exercise, fetal well- being and pregnancy outcome. Exercise and Sports Sciences Reviews. 22:145-94.

11.WOLFE L; OHTAKE PJ; MOTTOLA MF and McGRATH MJ. 1989. Physiological interactions between pregnancy and aerobic exercise. Exercise and Sports Sciences Reviews. 17:295-51.

12.WOLFE LA; HALL P; WEBB KA; GOODMAM L; MONGA M and McGRATH MJ. 1989. Prescription of aerobic exercise during pregnancy. Sport medicine. 8:273-301.  

13.WILMORE JH & COSTIL DL. 2001. Fisiologia do esporte e do exercício. 2a Edição. Ed. Manole. São Paulo.

Data da Publicação: 28/01/2004

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