Sarcopenia
Conceitos A redução da massa muscular associada com
a idade foi denominada genericamente como sarcopenia (2,3). A sarcopenia pode ser definida
como o decréscimo da capacidade neuromuscular com o avanço da idade, sendo caracterizada
principalmente pela diminuição da quantidade e da habilidade das proteínas contráteis
exercerem tensão necessária para vencer uma resistência externa à realização de uma
tarefa (7). |
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Sarcopenia é uma palavra de origem grega
que literalmente significa perda de carne (sarx = carne e penia = perda).
Entretanto, este termo se refere a várias mudanças na composição corporal e funções
corporais relacionadas. Provavelmente não existe declínio funcional e estrutural tão
dramático quanto o da massa magra ou massa muscular com o passar do tempo (4).
Introdução
Conforme envelhecemos, observa-se uma
tendência para a redução na massa muscular, isso pode ser causado pela diminuição no
tamanho ou perda das fibras musculares ou ambos. É Interessante notar que esta perda é
tanto quantitativa como qualitativa (2,11). Quando se fala em perda na qualidade muscular,
se refere à composição da fibra muscular, inervação, contratibilidade,
características de fadiga, densidade capilar e metabolismo da glicose (3,11).
A diminuição da massa muscular
(quantitativa e qualitativa) é a principal razão para a redução na capacidade de
produzir força. Fato este que pode conduzir para a perda da independência funcional e
uma maior dificuldade na realização das atividades da vida diária, isto torna
importante o estreitamento da compreensão da sarcopenia como um conhecimento de efeitos
na saúde pública (3).
Efeitos
A força muscular é ou pode ser um dos
fatores que mais influencia na independência funcional em pessoas mais velhas (8), e
diversos fatores podem ser associados à fraqueza muscular. A reserva funcional em
indivíduos de idade avançada é por vezes tão reduzida que as perdas de força podem
representar a diferença entre uma vida autônoma ou não, isto porque a força muscular
é associada a uma grande quantidade de atividades cotidianas (11), sem cotar que a
maioria dos fatores associada à falta de força podem ser correlatos ou até mesmo
interdepentendes.
Alterações músculo-esqueléticas
estão relacionadas com perda ou diminuição funcional que refletem no metabolismo basal,
na função renal, na função cardíaca, na capacidade vital e na função pulmonar, o
que potencialmente propicia o organismo ao acúmulo de doenças crônicas como diabetes,
hipertensão osteoporose e obesidade (2,3,4,6). Concomitantemente como conseqüência da
sarcopenia, ocorrem alterações no sistema nervoso e redução de secreções hormonais,
o que conjuntamente acarreta problemas na marcha e no equilíbrio, aumentando o risco de
quedas e fraturas (2,3,4,6). É interessante ressaltar que estas mudanças são mais
pronunciadas nas mulheres (6).
A falta de força em se carregar uma
sacola de mantimentos para casa, por exemplo, pode demonstrar mudanças intrínsecas na
propriedade de contração muscular, nas características de fadiga e/ou na quantidade de
sangue que flui por este músculo (3). A dificuldade em levantar de uma cadeira, levantar
da cama, a diminuição na velocidade do passo, problemas de equilíbrio, quedas e risco
de fraturas são reflexos de fraqueza nas extremidades inferiores do corpo (3,6).
Avaliação
Diagnóstica
Tendo em vista os malefícios aos quais a
sarcopenia pode nos expor, cabe a pergunta: Como saber se estou acomedito por este mal?
Uma variedade de métodos e aproximações são utilizáveis para estimativa da massa
muscular de forma localizada ou em todo o corpo, direta e/ou indiretamente. Esta série de
técnicas vai deste o uso de medidas antropométricas que requerem equipamentos baratos,
até o uso de sofisticados e caros instrumentos de radiologia (5,6).
Medidas antropométricas: Os
valores da espessura da dobra cutânea e circunferência corporal têm sido usados para
estimar a massa muscular. Simples medidas como a circunferência do braço, corrigido pela
espessura da dobra cutânea do tríceps, podem ser usadas para calcular a área muscular
desta região. Entretanto este tipo de avaliação não é aguçado e sensível o
suficiente para monitorar pequenas mudanças na massa muscular, sendo, portanto pouco
preciso para se detectar o início do processo de sarcopenia (5).
Metabólitos musculares
endógenos: Existe a hipótese de que componentes metabólicos do metabolismo muscular
podem ser usados como índice de massa muscular, primeiro por existirem sinalizadores
químicos encontrados apenas no tecido muscular de forma constante, e segundo pelo fato
destes sinalizadores permanecerem imutáveis após sua liberação. Estes metabólitos
são a creatinina e a 3-metilhistitina (3-MH), e podem ser detectados e avaliados por sua
presença na urina. Entretanto este método também apresenta suas limitações em
fidedignidade, pois pode ser influenciado pelo nível de atividade física, maturidade,
estado metabólico, sexo e musculatura não esquelética (4,5,6).
Tomografia computadorizada:
Este método se baseia na diferença na densidade física entre os tecidos corporais,
além disso, no número atômico entre os componentes químicos dos tecidos. A tomografia
computadorizada oferece imagem de alta qualidade e separação clara entre a massa
muscular e os outros tecidos fornecendo medidas únicas de mudanças na composição
corporal (5).
Ressonância magnética: A
ressonância magnética e baseada na interação entre núcleos de átomos de hidrogênio
e o campo magnético gerado e controlado por instrumentação. Este método pode ser usado
para avaliação regional ou de todo o corpo (5).
DXA: É a sigla de dual X-ray
absorptiometry, método que expõe o paciente a raios X, determinando a quantidade óssea
e de tecidos mais moles como a gordura e a massa muscular. Estes tecidos
moles possuem quantidades diferentes de água e componentes orgânicos que
restringem o fluxo dos raios X de forma diferente da qual ocorre com a ossatura (5).
Bioimpedância: Este método
se baseia na diferente resistência oferecida pelos diferentes tecidos a determinada
corrente de origem elétrica. Tem uma correlação bastante significativa com a tomografia
computadorizada (5).
Influência do
treinamento
Uma importante questão é se este
fenômeno pode ser influenciado, e se possível, como influenciá-lo? Vários
pesquisadores através dos anos têm estabelecido possibilidades que podem amenizar o
declínio da massa muscular e suas ações correlatas (4).Uma intervenção que parece ser
a mais promissora é o treinamento de força. O treinamento de força pode alterar
significativamente o declínio da massa muscular e conseqüentemente pode ter importante
implicação na saúde pública. Treinamento de força de alta intensidade resulta em
ganhos significativos na força e no estado funcional do indivíduo. Conseqüentemente,
ocorre ma melhora significativa nas atividades de vida diárias, e na independência
funcional de pessoas mais velhas, além de já ter sido demonstrado múltiplos efeitos
positivos em fatores de risco para doenças crônicas (4,6).
Com o envelhecimento, aparentemente,
existe uma perda preferencial pelas fibras tipo II (contração rápida) isso está
relacionado com a redução na força muscular (2,6), uma vez que estas fibras são
consideradas grandes responsáveis pelo trabalho de força (9). A perda das fibras
musculares do tipo II significa uma diminuição das proteínas de cadeias pesadas de
miosina, que se transformam para o tipo mais lento, o que poderia afetar a velocidade do
ciclo das pontes transversas de actina e miosina durante as ações musculares, além de
uma concomitante diminuição de atividade da miosina ATPase (2). Neste caso, o
treinamento de força seria muito interessante, pois propicia um aumento do tamanho do
músculo em decorrência do resultado do aumento nas proteínas contráteis (6).
O treinamento de força, mais do
que qualquer outro, estaria diminuindo os efeitos negativos do envelhecimento sobre os
aspectos neuromusculares, proporcionando mais saúde e independência aos mais velhos
(8,10).A quantidade de massa muscular perdida com o envelhecimento também depende da
atividade física, e a taxa de perda é menor naquelas pessoas que mantém um regime
regular de atividade física (1). Assim a atividade física e em especial o treinamento
com pesos, pode minimizar ou mesmo reverter à síndrome da fragilidade física que
prevalece entre indivíduos mais velhos (6,7).
Autor: Vandeir
Gonçalves Silva
Colaborador do Saúde em
Movimento
Membro do Gease
Graduado em Educação Física pela Universidade de Brasília
Pós-graduando em Fisiologia do Exercício pela Universidade Federal do Paraná
Professor de musculação da Academia Malhart
Treinador individual
Referência Bibliográfica
(1) SPENCE; Alexander P; anatomia humana básica: editora
manole 2º edição 1991.
(2) FLECK, Steven J. and KRAEMER, William J; fundamentos do treinamento de força
muscular: artmed editora, 1997.
(3) DUTTA, Chhanda; significance of sarcopenia in the elderly. The journal of nutrition vol. 127 nº5 may 1997.
(4) ROSENBERG, Irwin H; sarcopenia: origins and clinical relevance. The journal of
nutrition vol. 127 nº5 may 1997.
(5) LUKASKI, Henry; sarcopenia: assessment of muscle mass. The journal of nutrition
vol.127 nº 5 may 1997.
(6) EVANS, Willian; functional and metabolic consequences of sarcopenia. The journal of
nutrition vol.127 nº 5 may 1997.
(7) RASO, Vagner; ANDRADE, Erinaldo Luiz; MATSUDO, Sandra Mahecha & MATSUDO, Victor
Keihan Rodrigues; exercícios com pesos para mulheres idosas. Revista brasileira de
atividade física e saúde V.2, Nº 4, 1997.
(8) RASO, Vagner; ANDRADE, Erinaldo Luiz; MATSUDO, Sandra Mahecha & MATSUDO, Victor
Keihan Rodrigues; efeito de três protocolos de treinamento na aptidão física de
mulheres idosas. Gerontologia V.5, Nº 4, 1997.
(9) FARINATTI, Paulo de Tarso Veras; MONTEIRO, Walace David Monteiro; fisiologia e
avaliação funcional 4ª edição editora sprint, 2000.
(10) RASO, Vagner; ANDRADE, Erinaldo Luiz; MATSUDO, Sandra Mahecha & MATSUDO, Victor
Keihan Rodrigues; exercício aeróbico ou de força muscular melhora as variáveis da
aptidão física relacionadas à saúde em mulheres idosas? Revista brasileira de
atividade física e saúde V.2, Nº 3, 1997.
(11)FARINATTI, Paulo de Tarso Veras; MONTEIRO, Walace David Monteiro; AMORIM, Paulo;
FARJALLA, Renato; Força muscular e características morfológicas de mulheres idosas
praticantes de um programa de atividade física. Revista Brasileira de Atividade Física e
saúde V.4 Nº 1, 1999.
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